quarta-feira, 15 de julho de 2009

Devaneios Caribenõs


Marcelo Alves

Cara, que foda! Músicas de excelente qualidade pra se ouvir nunca faltaram... AC/DC, Kiss/ Pink Floyd/ Deep Purple/ Scorpions e lá vai muita coisa ainda que com certeza passa pela cabeça dos leitores. Cada um com seu gosto. Pop, rock, samba, tecno, e tal.

Mas não sei: talvez por uma enorme exposição a bandas estrangeiras, com vocais em inglês, e brasileiras, fiquei um bom tempo sem ter o que ouvir, achando tudo meio chato e igual. Acho que me desiludi. Ia de Nando Reis e Cássia Eller a Skid Row e Aerosmith. Até que tudo isso caiu na mesmice. Aí, vendo notícias sobre Zelaya e Honduras, meio que tive um estalo: fui procurar bandas latinas, previamente desconfiado de sua qualidade.

Felizmente, o que encontrei, após pouco esforço, foram trabalhos ótimos de músicos de que nunca tinha ouvido nem falar, quiçá escutar algo. Em buscas pelo Last Fm, achei primeiro a banda Soda Stereo. Estes argentinos já estão na estrada desde 1982 e têm grande fama em toda a América, com freqüentes aparições na revista Rolling Stone e na MTV daquele país. A banda faz um Rock limpo, na medida certa de peso, com refrões cativantes, solos cheios de swing, letras inteligentes e bem interessantes. Havia parado por divergências musicais entre os membros. Mas em 2007 seus membros se reuniram para fazer uma turnê pela América, em que venderam mais de 1 milhão de entradas, gravaram “Me verás Volver,” e até foram recebidos pela Presidente Cristina Kirchner na Casa Rosada.

Seguindo essa linha, baixei o CD de Gustavo Cerati, o principal compositor do Soda. Suas músicas solo são tão boas quanto às de sua banda anterior. O vocalista/guitarrista faz um rock mais perto do blues, com pequenas orquestrações, partes calmas, atmosféricas e outras mais rápidas. Novamente a qualidade é altíssima, os álbuns “Ahí Vamos”, “+ Bíen” e “Bocanada” realmente surpreendem por suas letras, feeling e pluralidade.

Satisfeito com os resultados até ai, continuei a fuçar a net. Muito bem comentado, cheguei a Fito Páez. Já tinha virado rotina. Músicas muito boas, com astral remetente às ruas e romances argentinos. As letras são verdadeiras poesias embaladas por guitarras e teclados levemente acrescentados, criando uma harmonia bem sensual e suave. Seu disco “O amor después del amor”, de 1992, é o mais vendido da Argentina, com mais de 700 mil cópias. Sua obra é extensa, mas não se resume à musica: Páez também dirigiu três filmes: La balada de dona Helena (1993), Vidas Privadas (2001) e ¿De quién es el portaligas? (2007). Recentemente, esteve em turnê pelo Brasil e fez uma aparição no Programa do Jô.

Agora sigo procurando coisas na América Latina, México, Honduras, Cuba e Costa Rica são meus alvos. Tenho em mente bandas como as mexicanas, Molotov e Café Tacuba, argentinas, Babasónicos, Los Piojos e Bersuit Vergarabat, além do hondurenho, Guillermo Anderson.

Até agora não tive nenhuma decepção, ao contrário, só boas surpresas. Não entendo porque essas bandas não são populares em terras brasileiras, talvez por causa de uma velha, e estúpida rixa, ou mesmo falta de divugação e dificuldade de aceitação da lingua catalã. Fato é que as bandas latinas já têm seu lugar em minha cabeça, daqui para a frente buscarei obter mais informações sobre a tão rica cultura não só de nossos hermanos, como de toda a América Espanhola. O argentino Gabriel Garcia Marquez e o peruano Mario Vargas Llosa certamente não são os únicos literatos excelentes de lá, por hora, os argentinos, Júlio Cortazar e Jorge Luís Borges frequentarão também minha cabeceira.

Importante é abrirmos nossas mentes para a vasta cultura caribenha e latina. Não considerar esses significantes produtos culturais é negligenciar a própria brasilidade e tudo que temos em comum com nossos irmãos de continente.

sexta-feira, 10 de julho de 2009

Tudo certo? ... ? ...! !!!


Como foi alertado por Eduardo Guimarães em seu site, a mídia golpista esforça-se para esconderou gazer coberturas superficiais sobre os prêmios internancionais que o presidente Lula recebe.

UOL
G1
Folha Online

Uma analisada superficial sobre os sites supra mencionados indica que a abordagem por eles feitas é demasiadamente despreocupada com a eminência do ocorrido: exceto a Folha Online, o G1 publicou apenas um vídeo e o portal UOL uma pequena notícia.

O prêmio da Paz Felix Houphouët-Boigny recebido por Lula é entregue anualmente a pessoas ou a organizações que promovem a paz.O brasileiro se igualou a personalidades importantes no cenário mundial como o rei da Espanha, Juan Carlos, o ex-presidente da África do Sul e prêmio Nobel da paz, Nelson Mandela e o ex-presidente americano, Jimmy Carter que também foram agraciados com o prêmio.

Segundo o líder do júri da Unesco, o ex-presidente de Portugal, Mario Soares, em entrevista à Rádio ONU sobre o trabalho social de Lula e a busca da paz no Brasil e na América Latina, "Ele recebeu o prêmio por ser uma pessoa de paz. E por ser uma pessoa que quer o desenvolvimento de seu país e sobretudo assegurar o fim da distância entre os brasileiros ricos e pobres. Ele vem promovendo o equilíbrio social no Brasil, a paz entre as diferentres etnias e tem feito muito pela paz na América Latina"

Partindo para outra linha de análise,o site da BBC deu praticamente a mesma notícia que as mídias virtuais brasileiras, porém, em uma reportagem subsequente, ressaltou a importância do fato e destacou mensagens veiculadas em jornais franceses como o Libération, que representava Lula como sendo um "homem forte" com alta popularidade e que a economia do país de desenvolve bem, com significativas distribuições de renda; já Le Figaro publicou que o presidente brasileiro está sendo "festejado" na França, apesar de estar "enfraquecido" em Brasília, ainda expõe a condição salutar e próspera dos mercados brasileiros.

Com tantos indícios da relevância da entrega e da Brasil em âmbito mundial, como que a imprensa nacional pode continuar a publicar seu discurso sujo e golpista, distorcendo fatos e mudando o foco do, Brasil para a morte de Michael Jackson, ou qualquer coisa semelhante que distraia a atenção do público para fatos que são indiferentes ao andamento político social e econômico deste País.

Já está na hora do povo despertar da sua onda de marasmo e sonambulismo. Já é hora de a mídia parar com sua política de antidesenvolvimento do Brasil. Enquanto grupos como o Farias e o Marinho se esforçam para esconder e dificultar os sucessos de Lula, este vêm elevando o País a níveis nunca antes vistos de distribuição de renda, bem como de acesso à saúde e eduacação.

terça-feira, 2 de junho de 2009

Resenha do Capítulo 2. do livro Como se faz uma Tese

Resenha – Eco, Umberto. Como se Fazer uma Tese. São Paulo: Perspectiva, 1991. Capítulo 2: A escolha do Tema

Marcelo Alves

Umberto Eco é um ensaísta italiano de renome mundial, dedicado a temas como estética, semiótica, filosofia da linguagem, teoria da literatura e da arte e sociologia da cultura; e titular da cadeira de Semiótica e diretor da Escola Superior de Ciências Humanas na Universidade de Bolonha. Neste seu livro – Como se faz uma Tese – Eco dirige-se, principalmente, a estudantes universitários no que diz respeito à matéria Metodologia de Pesquisa. Assim, seu livro preocupa-se em inserir e conduzir os alunos no caminho das Teses. O capítulo - A Escolha do Tema – especificamente, explica o conceito de cientificidade, os tipos de teses, o tempo que lhes deve ser empregado, a importância de conhecer línguas estrangeiras; e, também, diferenças de temas e o envolvimento do aluno com a tese.

O italiano faz a divisão de assuntos em tópicos e utiliza de linguagem despojada e simples para desenvolvê-los, dando exemplos empíricos e experimentais de pesquisas, ajudando assim, na compreensão do leitor. No que diz respeito ao tipo de tese, ele define Tese Panorâmica como alga vastíssimo e perigoso para um aluno sem experiência e renome, ao passo que a Monografia é a abordagem de um só tema, o que a torna mais fácil de ser feita com sucesso. Já entre Tese Histórica e Teórica, Eco ressalta a dificuldade em se conduzir uma Tese Teórica, pelo estudante, visto que essa possui caráter abstrato e outros inúmeros estudos que tratam do tema, por isso o trabalho fica fadado a ser breve e sem organização interna; é preferencial fazer um trabalho historiográfico, embasado por estudos anteriores, e aplicar ideias originais ao final do ensaio, a fim de discutir o assunto. Já em relação ao Tema ser Histórico, ou Contemporâneo/Atual, Eco afirma que, sem dúvida, é mais fácil partir para o campo Histórico, uma vez que este, embora tenha maior e mais complexa bibliografia, tem esquemas interpretativos mais seguros, enquanto o contemporâneo tem estudos mais vagos, dispersos e contraditórios. Mas nada impede que as metodologias de análise sejam trocadas, ou seja, que “se trabalhe sobre um autor contemporâneo como se fosse antigo, e vice-versa”, o que, segundo o autor, tornará o trabalho mais agradável e seguro.

Umberto Eco diz que a Tese é uma ocasião única para agregar conhecimentos, que servirão ao aluno para o resto de sua vida, como aprender línguas estrangeiras, essenciais para que se desenvolva um estudo consistente sobre o escrito original de um autor e suas idéias. Nesse sentido, o aluno não deve ser obrigado a escrever uma Tese, nem o tema lhe deve ser imposto, mas ele deve sentir-se atraído pelo assunto, de modo que ele se envolva em um Tema à sua altura, com o intuito de desenvolver seus conhecimentos e levar o tema a um novo patamar, que será considerado e discutido posteriormente. Por isso, o tempo que será empregado no trabalho não poderá ser visto como um obstáculo estafante, mas prazeroso; e nesse ponto, Eco é rigoroso ao afirmar que “Se quiser fazer uma tese de seis meses gastando apenas uma hora por dia, então é inútil discutir. Para não correr o risco de trabalhar em uma tese medíocre, copiem logo um trabalho qualquer e pronto”.

Ao longo do capítulo, Eco levanta conceitos que serão discutidos também por Rubem Alves (Filosofia da Ciência: introdução ao jogo e a suas regras, 2000), como a importância da ordem em um trabalho acadêmico, a impossibilidade de se obter respostas perpétuas e absolutas, a constante modificação, reinterpretação, atualização e contestação das teorias; e o conceito de cientificidade, explicado por ambos não como algo que envolve fórmulas e diagramas, mas como estudos que analisam um objeto reconhecido igualmente por outrem, que sempre dizem algo de novo sobre esse objeto, ou o reinterprete; que esse estudo dialogue com outros e lhes seja útil. Portanto, estudos de quaisquer áreas do conhecimento serão científicos, desde que sigam aqueles requisitos.

O Capítulo 2, A Escolha do Tema, do livro Como se faz uma Tese, de Umberto Eco expõe e discute problemas de metodologia, que serão encarados nas pesquisas, com boa profundidade e clareza, cumprindo o que propõe, e sendo, destarte, importante e indicado para os estudantes interessados em seguir carreira acadêmica, ou fazer o Trabalho de Conclusão de Curso.

domingo, 3 de maio de 2009

Eu quero Viajar...


5Cclip_filelist.xml">hememapping.xml">

Eu quero viajar

Marcelo Alves

Eu quero viajar, conhecer novos lugares, novas pessoas, ver maravilhas naturais: cachoeiras, praias e montanhas. Estou cansado das curvas de Niemayer, apesar de estar frequentemente na mídia, Brasília não é tão interessante quanto parece, após se acostumar com escândalos e políticos correndo dos repórteres, isso vira um saco. Por isso resolvi por o pé na estrada. Perguntei a mamãe o que é necessário para viajar e ela disse pra eu arrumar as malas e ir pra rodoviária. Lá a moça do guichê falou que eu precisava de dinheiro pra comprar a passagem, mas dinheiro eu não tenho. Aí, mamãe disse que pra eu ter dinheiro, preciso trabalhar. Mas trabalhar está fora de cogitação: imagina, ficar horas no mesmo lugar fazendo coisas pros outros, esquece.

Eu quero viajar, mas não quero trabalhar. Então perguntei a papai, o que eu poderia fazer pra viaja. Daí ele disse pra eu pegar carona. Só que pegar carona é complicado: tem que fazer placas e ficar esperando horas a fio, fora que nunca se sabe quem iria te dar carona, se um assassino ou estuprador. Não quero nada incerto, tem que ter garantias.

Aí pensei: eu quero viajar, mas não quero trabalhar, nem nada incerto. Posso pedir pro meu tio me levar no carro dele. Seria legal: alguém para conversar, enquanto se enfrenta aquelas infindáveis horas na estrada; o carro até tem um sonzinho para agente curtir uma música. Pedi a ele então e ele me disse que eu teria de seguir as regras dele: nada de comida no carro e sem bagunça. Nossa que chato, não quero seguir regras de ninguém.

Eu quero viajar, mas não quero trabalhar, nem seguir regras de ninguém, nem nada incerto. Não tinha mais nada em mente e já ia desistir do me plano, quando troquei umas idéias com meu brother do morro. Ele falou que agente podia fazer uns assaltos ai e conseguir uma grana pra pagar a passagem. Ah! Não acho certo. Tenho muito medo de ser preso.

Eu quero viajar, mas não quero trabalhar, nem seguir regras de ninguém, nem nada incerto e ainda tenho muito medo de ser preso. Então tive uma idéia mirabolante: vou viajar de avião. Para isso vai ser fácil: arranjo um emprego na Câmara, lá não terei de trabalhar, nem seguir regras e ainda posso fazer muitas maracutaias sem ser preso, lá as coisas tem total certeza. Vou poder pegar as milhas e viajar bastante com o dinheiro do contribuinte. E se alguém descobrir o esquema não tem problema. Por acaso alguém já viu algum político numa prisão? As prisões até que se parecem com a Câmara, em ambos lugares tem pessoas que cometeram furtos, seqüestros, farsas, corrupções; a diferença é que os prisioneiros não podem sair da cadeia, e os Deputados não aparecem na Câmara.

sexta-feira, 27 de março de 2009

Saussure, bar e Vodka?


Análise sobre o Signo Lingüístico, de Ferdinand Saussure; Professor: Paulo Henrique Caetano

Marcelo Alves

- Pode trazer outra Vodka aí!


- Fala aê cara, tudo sussa? Como vai a facu?


- Pô cara, vai bem demais, mas as aulas de linguística tão me matando. E por falar em linguística, isso aí que você pediu não é Vodka, é apenas um significante arbitrariamente ligado a um significado.


- Quê? Falei que você ia ficar doido! Quem te ensinou isso?


- Saussure.


- Sosire? È marca de Whisky?


- Não, é um teórico. Olha o livro dele...


- Quê é isso? Você trouxe um livro pro bar? É uma heresia etílica! Queridas não olhem!


- Para, para! È simples: Saussure define a palavra como o significado, sem relação motivada com a imagem conceitual, o significante. Entendeu?


- Óbvio que sim, como eu não entenderia algo tão simples? Vira o copo logo e volta pro mundo!


- Presta atenção: por que a Vodka se chama assim? Podia se chamar refrigerante, suco ou água...


- Água? Você agora foi longe demais, nova heresia. Larga de ser burro! Vodka chama Vodka porque é alcoólica e cinco vezes destilada. A faculdade ta retardando seu cérebro!


- Não, não! Eu queria dizer que qualquer outra palavra poderia nomeá-la. Mas Vodka foi o nome que nos aprendemos pela nossa tradição e é por isso que você a chama desse jeito.


- Isso é verdade, tenho bastante tradição alcoólica para comprovar a tese...


- E tem mais...


- Meu Deus me salva! Pensei que concordando ele ia parar!


- Seguindo o fato de que esse nome lhe foi imposto pela cultura, ninguém pode modificá-la, a menos que essa mudança seja acordada, adotada e assimilada por toda a sociedade.


- Verdade, peguei a ideia.


- Quer provar a teoria? Pede Rum e depois reclama, dizendo que você queria Vodka, ou seja, você a chama de Rum, isoladamente você ligou esse significado à Vodka. O garçom mandaria você fazer psicanálise!


- Lógico, queria o quê?


- Essa imutabilidade do signo linguistico garante o entendimento entre as pessoas. Só que o fato de as palavras mudarem garante a sobrevivência da língua...


- Tá loco? Como ela pode ser mutável e imutável ao mesmo tempo?


- Imagina se falássemos: Vamo chapa o coco. 30 anos atrás.


- Nó, o cara provavelmente se jogaria de cabeça na parede, ou bateria com uma chapa em um coco... mas o quê tem a ver?


- Tudo! O desenvolvimento da sociedade abandonou a palavra “embebedar-se”, ou “inebriar-se”; adotando “chapar o coco” no seu lugar e preservando a imagem conceitual, mas com outro significante.


- Ah! Sim, sim. Cara, não gostei desse papo, não. Mas foi interessante. Bora chapa o coco e deixa esse tal de Sosire de lado. Vamo falar de futebol ou de mulher...

quinta-feira, 12 de março de 2009

Tese sobre Política Líquida

Marcelo Alves

O termo Política foi designado por diferentes filósofos de diferentes tempos, segundo Aristóteles ela é a ciência que tem por objetivo assegurar a felicidade humana; já Maquiavel considera política a arte de conquistar, manter e exercer o poder, o governo. Ela já foi execrada e vangloriada já salvou vidas e já matou. No entanto, hoje política e movimentos sociais estão envoltos em uma nuvem de esquecimento, guardados em recônditos lugares do dia-a-dia humano, tornou-se sinônimo de corrupção, roubalheira e sujeira. Como explicar o fato de figuras tarimbadas da improbidade voltarem ao poder: Naya, Maluf,Collor, Sarney, o dinossauro PMDB. Todas essas repentinas mudanças na política são frutos do rápido esquecimento, da negligência virulenta que tomou conta dos cidadãos, maiores interessados na honestidade e no bom funcionamento da máquina estatal. Este estudo, calcado na teoria da modernidade do Sociólogo polonês Zygmunt Bauman e de outros autores, propõe-se a elucidar alguns aspectos da política Líquida e seus desdobramentos na sociedade.

O conceito de “Vida Líquida” de Bauman apregoa a constante modificação da sociedade, ou seja, o hábito de alterar sua identidade incessantemente, sem que haja a “consolidação de hábitos rotinas, ou formas de agir”. Dessa forma, há a dinamização das ações humanas levada ao extremo: o cidadão passa a preocupar-se em acompanhar a velocidade caótica do mundo; teme a desatualização como se fosse um processo de exclusão. Essa sociedade “pós-moderna” apóia-se no consumo, na satisfação pessoal e imediata dos prazeres, na transposição das distâncias; no “desejo de sentir desejo”. No entanto, lealdade e vínculo são valores completamente prescindíveis: prender-se a uma ideologia ou um produto significa a estagnação no tempo; a indolência, a morosidade. Estes seres caem numa areia movediça inquebrantável e tornam-se descartáveis, inúteis à sociedade; ficam fadados à exclusão; são tratados como o lixo da sociedade.

Esse conceito de liquidez, aplicado à política pode ser exemplificado pela frase de Hanna Arendt: “o homem está cada vez mais limitado ao labor e ao trabalho, abandonando, assim, o lado político”. Isso ocorre por causa da rapidez extremada à loucura com que o homem moderno conduz a sua vida. A vida política e os movimentos sociais exigem um vínculo ideológico imóvel, fidelidade às doutrinas. Mas o ser moderno não pode conviver com essa inflexibilidade, ele deve experimentar novas sensações, iniciar, apagar, recomeçar. O conceito de sucesso a longo prazo é inaceitável a ele, isso leva a um progressivo abandono e alienação inerentes à ação política.

Além disso, o engajamento político-social deve ser maciço, intenso e contínuo. Este engajamento, cobrar resultados dos homens que governam o Estado, é o principal modo de o povo exprimir seu desejo e suas agruras, de não se sentir alijado das decisões, assim foi na Marcha dos Cem Mil e nas Diretas Já. Assim, muitas vontades devem ser unidas em torno de um objetivo e as pessoas necessitam de tempo livre para isso. O esforço coletivo em busca de um ideal ou resultado foi renegado pela individualidade moderna, os interesses e o bem alheios tornam-se irrelevantes ao cidadão moderno. Isso porque, qualquer tempo que não seja destinado ao hedonismo é improfícuo e pródigo. Isso faz com que as lideranças e opiniões locais sejam desprezadas e abandonadas. Não existe na sociedade nenhum local para debater temas importantes a ela (os fóruns romanos de debate democrático foram deixados na história do império), muito menos pessoas capacitadas e suficientemente informadas para conduzirem o povo.

Nesse sentido, os temas políticos são encarados pela grande parcela da população como algo inacessível e impenetrável. Há um consenso de que a corrupção e a “força do sistema” são indestrutíveis e os cidadãos acomodam-se frente aos desmandos gerais que se desenrolam nos congressos. Assistem incólumes às veladas decisões que são tomadas, pagam as multas que os mandam pagar, seguem as leis que os mandam seguir e, até vão aonde os mandam ir. Os principais afetados pelas resoluções dos excelentíssimos senhores resignam-se a esbravejar contra a improbidade dos políticos, mas não tomam nenhuma providência, não se manifestam contra. Os que ainda tentam tomar alguma diligência são rejeitados; remar contra a maré significa ser diferente, incomum, não se adaptar ao efêmero e estes são tratados pela maré como o lixo que deve ser excluído.

Após a celeridade da globalização ser difundida à exaustão entre os que podem usufruí-la, a sociedade foi polarizada em dois sentidos: segundo Bauman, o primeiro é o dos "turistas", que são integrantes das elites, desfrutadores das belezas da existência e despreocupados com as agruras políticas e sociais dos "vagabundos", estes, por sua vez, são os alijados da sociedade. Entre eles, flutua um volátil grupo que tenta se igualar aos "turistas", uma vez que não se sentem á vontade em seu território. Desses três grupos, nenhum defende quaisquer ideologias políticas que assegurem direitos e melhores condições de vida aos pobres. Os "turistas" ignoram ações que não lhes diz respeito e contentam-se em dar esmolas aos pobres. O grupo central, a classe - media, é manipulado ao sabor das vontades dos turistas; e os "vagabundos", que são a maioria, não tem organização, informações ou coragem para levantarem-se contra o controle dos altos grupos da sociedade. Em outras palavras, o envolvimento amplo a movimentos sociais passa por um período delicado e tende a decair cada vez mais.


Finalmente, a própria Política é liquida em suas demandas e atos. O Estado foi enfraquecido em sua capacidade de tomar decisões; interesses particulares de grandes conglomerados de empresas fragmentaram a força política para poder dominá-la mais facilmente. Ideologias conflitantes ficam à margem das determinações. A classe que detém as rédeas da nação é como uma massa informe que é moldada e manipulada para garantir os lucros das transnacionais. A fragmentação chega a níveis impressionantes quando não há como saber quem manda em um Estado, somas vultosas de dinheiro são investidas todos os minutos e o País se vê dependente da boa vontade dos investidores. Governos que tentam fugir a essa premissa são impedidos de administrar e tem que se adaptar à situação em vigor para tentar derrubar algumas migalhas da farta alimentação da elite para o chão dos pobres esquecidos, como lula vem tentando fazer, melhorar a condição social por meio de acordos com elites de direita e os indestrutíveis PMDB, PFL e PSDB; ou ainda, através de MPs. As ideologias e as manifestações clamorosas de 1930, de 1968 e de 1985 limitam-se a uma página gloriosa da História.

Segundo Goethe “o único meio que o homem moderno dispõe para se organizar é a radical transformação de todo o mundo físico, moral e social em que vive”. E o caminho mais seguro para que essas transformações ocorram é investir na educação das crianças e estimular o pensamento crítico analítico da população; como disse Berman: “como membros da sociedade moderna, somos todos responsáveis pelas direções nas quais nos desenvolvemos, por nossas metas e realizações, pelo alto custo humano aí implicado”. Ademais, a imprensa tem papel fundamental em insuflar esse pensamento crítico, por Nassif: “A imprensa deve atuar como equipamento de identificação dos problemas, porta-voz público, apresentação de reivindicações, noticiar a economia, os mercados e as empresas. Responsabilidade social para com a nação.” A política só se tornará sólida se o povo cobrar honestidade e seriedade, ou segundo Di Franco: “É importante que a Sociedade Civil se manifeste, caso contrário, a democratização não passará de ficção...”

terça-feira, 24 de fevereiro de 2009

Análise de, O Muro - de Jean Paul Sartre


Marcelo Alves


Ano passado, eu havia lido A peste, de Camus e, assim me introduzira no existencialismo. Agora, retomei o entendimento dessa corrente filosófica lendo a coletânea de contos: O Muro. Os contos propõem-se a ilustrar a teoria filosófica de Sartre e criam atmosferas tensas de extremo limite.
Assim, o conto O Muro demonstra detalhadamente as últimas horas de 3 condenados. No termo de suas vidas, os homens perguntam-se do significado de tudo o que fizeram, de qual era a valia da subversão de suas vidas. O personagem principal percebe-se inumano e indiferente a tudo, ignora seu passado e sua mulher e perde os sentimentos. Mas quando lhe pedem para entregar o seu líder, ele nega-se e reconhece depois não haver nenhum sentido para aquela negativa, salvo a obstinação.

O Quarto, ensaia, de certo modo sobre a força do amor. Dois casais são equiparados: o primeiro, apesar de morar sob mesmo teto, não suporta quaisquer conversas, exceto sobre a vida de sua filha. O segundo é formado por um louco que já nem sabe mais o nome de sua esposa. Neste, o amor incondicional de Eve a leva a amar o seu esposo pelo que ele fora, mas mesmo quando ele se tornou ensandecido, ela continuou a amá-lo e esforçava-se, em vão, para compreender as loucuras de Pierre, para ficar mais próxima a ele, transpor a única barreira que os separava. Ao final, Eve afirma que mataria Pierre se ele ficasse perdido e deformado em sua loucura, quando ela atingisse o ápice; privando-o dos vexames que ele sofreria inconscientemente.

Erostrato trata da ambição desmedida pela fama e pelo reconhecimento. O personagem principal, um ser totalmente banal, reserva-se a liberdade de odiar os homens e sua iniquidade.

Então, ele planeja durante meses sair às ruas e atirar em todos que aparecerem a sua frente e depois se matar. No dia, ele manda cartas a 102 escritores franceses explicando seus motivos e pedindo a eles para abrirem os jornais e contemplarem seu feito. Ele atira em um homem e corre da multidão, esconde-se no banheiro, mas não tem coragem de tirar a própria vida, a escolha de apertar o gatilho é pesada demais a ele e ele sucumbe à sua fraqueza.

Intimidade mostra a dificuldade dos homens em mudar radicalmente sua vida. Luci é uma mulher subjugada e maltratada por seu homem, sente-se infeliz e, após apanhar de seu marido, chega a planejar sua fuga com outro homem. Tudo isso influenciada por uma amiga, que julga conhecê-la e ter total domínio sobre Luci. Porém, na última hora, ela inventa vários motivos e dissuadia sua mente a abandonar a ideia e volta para casa.

O último conto, A Infância de um Chefe, é o que mais marcado pelo existencialismo. Sartre afirma que "A existência precede e governa a essência." Então, no conto, o personagem principal vive perguntando por que existe, qual é o significado de sua vida. E após tentar encontrar em Freud e Rimbaud um motivo de viver, ele entende o preceito principal do existencialismo: um ser existe, inicialmente, desapegado de qualquer essência e vai constituindo, livremente, seus pensamentos e conceitos durante as experiências de sua vida; em suas palavras: “é a vida; não se pode julgar nem compreender, é preciso deixar a coisa correr.” Ele termina como a figurinha ridícula e prepotente, assim como seu pai.

segunda-feira, 16 de fevereiro de 2009

Análise de O Som e a Fúria; de William Faulkner


Marcelo Alves

"É curioso que, seja do que for que uma pessoa se queixe, os homens nos digam todos para irmos ao dentista e as mulheres para nos casarmos. E é sempre alguém que nunca fez grande coisa na vida que nos vem dizer como havemos de governar a nossa. É como esses professores da universidade, que nem um par de peúgas têm de seu, a ensinarem-nos como ganhar um milhão em dez anos, e uma mulher que nem marido conseguiu arranjar a dar-nos conselhos sobre como criar uma família."

O Som e a Fúria é um livro extremamente denso e carrega em suas páginas um forte tom de loucura, que, de certo modo, envolve o leitor tão fortemente, que a seqüência racional do entendimento é destruída e cede lugar à percepção sensorial das sensações dos personagens.


Explico-me, o livro é composto de 4 visões diferentes, com pouca noção de linearidade temporal e racional. Assim, o primeiro capitulo é narrado através das sensações de um autista, o que apresenta ao leitor algo totalmente novo, pois não há lógica no encadeamento de idéias, os eventos são separados, retomados, misturados e confundidos aleatoriamente. Algo de extraordinário!

O segundo capítulo é narrado em uma época meio que perdida dentro da história e é a parte mais complexa do livro. Quentin, um suicida absolutamente sombrio e pessimista discorre sobre seus estudos em Harvard, porém sua escrita não segue nenhuma regra gramatical e fica enleada a pensamentos, a acontecimentos passados e a devaneios. O leitor fica totalmente perdido e para entender o nexo da história, dispõe de pequenos fragmentos de conversas inacreditáveis, pela insanidade e complexidade.

Os dois últimos capítulos elucidam os acontecimentos, mais de um modo lacônico e superficial, portanto o leitor fica entregue às suas próprias teorias. A estória conta a decadência de uma família desunida e fadada à desgraça. A mãe odeia seus três primeiros filhos: Ben, um louco; Quentin, o suicida, que pensa em matar a irmã, Caddy, e matar-se, para que no inferno ele proteja a virgindade e a honra da sua irmã; e Caddy, que se casa inúmeras vezes, deixa uma filha para a família cuidar e some no mundo. Jason é o único dos filhos que Caroline diz amar. Ele trabalha incessantemente, para cuidar da filha de Caddy, a Quentin (homenagem ao irmão morto), e de sua família arruinada. Acaba mostrando-se racista, autoritário e desvia todo o dinheiro que Caddy envia para a Quentin.

No aspecto geral, o Som e a Fúria é um romance deslumbrante e difícil de ser lido. Faulkner abandona seus leitores, no que concerne ao desenvolvimento e razões da estória; o que causa um fascinante efeito de interpretação dos motivos da decadência da família e dos tristes fatos que se desenrolam na trama. No meu ponto de vista, é um livro fatalista, visto que os integrantes da claudicante família correm sem perceber para um abismo do qual não há escapatória, pois eles se negam a olhar para o futuro, brigam entre si, destilando um verdadeiro ódio uns contra os outros. Há partes em que Caroline amaldiçoa seus malsinados filhos e não chora suas mortes.

Sensacional! Esse trecho ilustra o pessimismo e fatalismo irremediáveis do livro:
“Nenhuma batalha sequer é lutada. O campo revela ao homem sua loucura e desespero, e a vitoria é uma ilusão de filósofos e néscios.”

sábado, 14 de fevereiro de 2009

O jogador; de Fiódor Dostoievski


Marcelo Alves

“Neste momento senti que eu era um jogador. Senti isso como nunca até então. Minhas mãos tremiam, as pernas vergavam-se. As têmporas pulsavam agitadamente…”


Pensativo e maravilhado, terminei a leitura desse excepcional romance do mestre russo e resolvi fazer uma analise da psicologia do personagem principal, conjeturar da causa que o tenha levado ao vício.

Nesse livro, Dostoievski propõe-se a tratar sobre a compulsão de jogo e o poder de destruição que pode exercer sobre o homem. Em Roulettenbourg (nome irônico), cidadezinha russa, Alexei Ivanovich é um homem sem nenhuma aspiração, mas com um agudo senso de percepção da realidade e do mundo em sua volta. Ele apaixona-se por Paulina, mulher jovem que não dá atenção a ele e se compraz em humilhá-lo, mas afirma não viver sem ele.
Quando Paulina vê-se falida, ela pede a Alexei que aposte seu ultimo dinheiro na roleta e a partir daí passa a amar Alexei, que ainda era um homem escrupuloso e sentimental. Em certo ponto,
Alexei jura jogar-se de uma ponte se Paulina assim desejasse. Entretanto, o meio sujo, vazio de sentimento e sentido em que Alexei se encontra faz com que ele perca o interesse pelos homens, na sua maioria interessados por dinheiro, e passe a odiar aquela corja de golpistas que torcia pela morte de uma idosa para herdar-lhe a fortuna.
Inicialmente, Alexei afirma que o dinheiro deve ser suficiente para viver, mas acumular quantias suntuosas, mesmo que a muito trabalho e parcimônia, é inútil. Chega a dizer que o dinheiro é apenas uma ferramenta de poder para os homens poderosos julgarem e castigarem os que não são iguais a eles.

Sempre que Alexei vai ao cassino, ele percebe um lugar moralmente sujo e abjeto, no qual o homem entrega-se à ganância à falta de escrúpulos. Inicialmente, ele perde o último dinheiro de Paulina e depois, vê a Babuschka perder toda a sua fortuna e retornar desolada aos recônditos de Moscou. No entanto, quando Paulina declara o seu amor a ele, Alexei a deixa no quarto e aposta todas as suas economia na roleta, entre as apostas, ele ganha uma quantia exorbitante e aposta absolutamente absorto e compulsivamente, sem ver quantias, apenas resultados. Sai do cassino com uma quantia vultosa nos bolsos e corre para mostrá-la a Paulina, que ficara no quarto.

Dessa forma, ele oferece o dinheiro que ela precisava para pagar suas dívidas e ela, sentido-se mais uma vez comprada, enlouquece. Mesmo declarando amor incondicional a ela, Paulina resolve amparar-se em Mr. Astley; e Alexei vai para Paris com o intuito de torrar a sua fortuna com duas mulheres, em um mês.
Assim ele passa a vagar pelas ruas em condição sub-humana e chega a ser lacaio, gastando todo o dinheiro que tinha na roleta. Segundo ele, não era pelo dinheiro que poderia ganhar, mas pela glória de ouvir seu nome, ser felicitado, ser lembrado e paparicado. No ápice da insanidade, ele busca o dinheiro na roleta como um louco, tentando ganhar fortuna e obter o reconhecimento de Paulina, mostrar que era digno de seu amor.

Refém de uma sociedade corrupta, em que os valores foram abandonados e, na qual seres vazios de significado e moral vivem apenas para conquistar e dominar, ele vê um refúgio na jogatina, sua única possibilidade de atingir a glória, mesmo que para isso tenha que apostar o amor, o seu futuro, as suas amizades e oportunidades. Termina como indigente, que com um pouco de dinheiro dado por Mr. Astley, para encontrar Paulina que ainda o ama, conjetura se deve empenhá-lo no jogo ou tomar um trem para reencontrá-la.Sendo que o próprio Astley afirma que não dará mais dinheiro por ter a certeza de que o apostará; Alexei já está completamente perdido e dominado pelo vício.

Acaba dizendo que está cônscio de sua situação abominável, pior que a de um mendigo, ruína total!
Por fim, O Jogador é um romance que mescla os valores, a psicologia e o amor. Amiúde esquecido e humilhado, Alexei perde sua sanidade na roleta e não percebe que Paulina desejava apenas o seu amor...