quinta-feira, 27 de maio de 2010

Luta Anti-manicomial em Resende Costa


Combater a opinião mitificada e preconceituosa que ainda existe quando o assunto são doenças mentais. Esse foi o objetivo da 6ª Manifestação Regional da Luta Anti-manicomial, realizada em Resende Costa na última terça-feira, 18 de maio.
O evento mostrou que os cidadãos com sofrimento psíquico são doentes como outros quaisquer e não devem ser segregados em manicômios. O tratamento adequado precisa ser feito em conjunto com a sociedade e a família, para que eles tenham uma vida feliz e normal. “Ainda existem internações de, no máximo, 45 dias. O doente mental não deve sair do convívio familiar e social. A rua e os vizinhos têm que o aceitar. O hospital isola demais o paciente. Temos que humanizar o tratamento. Não é excluir, é cuidar”, disse Ramon Alexandre de Resende, psicólogo e coordenador do Centro de Atenção Psicossocial (CAPS) de São João del-Rei.

CAPS
O doente mental tem como atendimento de saúde, nesta região, o CAPS, que o trata quando está em crise severa e agressivo. O Centro acolhe e trata o paciente mental e fisicamente. “Diante do desfazimento, graças a Deus, dos manicômios, os sofredores mentais são atendidos nos CAPS de São João, Barroso e Bonsucesso. Atualmente são mantidos nas famílias, sem que se alienem dentro de um verdadeiro campo de concentração que era o manicômio. Essa situação não pode voltar. Esses seres humanos podem viver tranquilamente em sua comunidade”, afirmou o diretor Regional de Saúde, José Rosário.
O CAPS oferece oficinas artísticas para os seus usuários. Para Ramon de Resende, isso faz com que eles expressem seus sentimentos e angústias. “Se pensarmos no esquizofrênico e no psicótico, temos mentes desorganizadas, sujeito partido. A arte possibilita que o doente mental se expresse”, contou Ramon. Para o artista plástico são-joanense Wanderley Mario Guilherme, o Wangui, “é gratificante demais poder ensinar o desenho e a pintura a pessoas tão especiais. Na oficina, eles iniciam nervosos e terminam relaxados. O desenho os acalma e esse convívio é muito bom”.
Para o formando em Psicologia e participante do projeto Estreitamento dos Laços, Felipe de Melo, é um erro achar que os doentes mentais não podem se expressar ou que não entendem a realidade. “Eles compreendem demais a realidade. No Brasil, ainda é gritante o racismo, a homofobia e diversos outros preconceitos. Os doentes encontram uma saída no surto, por não conseguir conviver com essa loucura que é a sociedade. Falar que eles entendem a realidade, que são loucos é um erro”, observou Felipe.

segunda-feira, 24 de maio de 2010

Descaracterização visual, arquitetônica e urbanísitca de São João del-Rei


Pluralidade, tradição e modernidade
Casarões coloniais convivem com a arquitetura eclética e contemporânea e com o modo de vida acelerado da modernidade


São João del-Rei é conhecida por seus casarões coloniais, igrejas barrocas, neoclássicas e suas ruas sinuosas de pedras envelhecidas. A força da cultura do município revela inúmeras belezas de caráter material. Sua arquitetura, por exemplo, não ficou presa ao estilo colonial. Pela opção desenvolvimentista da cidade, encontram-se, também, belíssimas construções ecléticas, proto-modernas e contemporâneas. Claro que, para isso, muito se perdeu: casarões e até quarteirões inteiros foram derrubados. Ainda assim, uma São João del-Rei eclética em seus estilos sobrevive, açoitada pelas truculências da vida moderna.

"São João se manteve muito bem preservada, com todos os estilos arquitetônicos"(FERRARI)

Uns afirmam: apenas 3% da cidade estão, hoje, preservados. Outros dizem: todas as cidades que passaram por um processo de desenvolvimento foram descaracterizadas, mas, aqui, valorizou-se um número muito grande de bens patrimoniais. Contudo, não existe um estudo que precise a percentagem de bens históricos ainda preservada. Fato é que del-Rei escolheu não se quedar estagnada no tempo. Assumiu seu desenvolvimento econômico e, como muitos outros municípios históricos, pagou por isso com peças vivas de sua história. Nostálgicos apaixonados lembram-se dos tempos românticos da cidade, quando quase não havia carros. Realistas exaltam a autenticidade dos bens são-joanenses e a preservação que, com esforço, se conseguiu manter.

Nas palavras do diretor técnico do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN), Mário Ferrari: “Acho que São João del-Rei não é uma cidade descaracterizada, é uma cidade viva. Muita coisa se perdeu, assim como em qualquer outro centro, em função do crescimento desordenado e da falta de planejamento. Peculiarmente, São João se manteve muito bem preservada, com todos os estilos arquitetônicos”

Pluralidade
Segundo a arquiteta da Secretaria Municipal de Cultura e Turismo, Karina da Silva Martins Rodrigues, “ao caminhar por del-Rei apreciamos a variedade de estilos que marcaram o desenvolvimento da cidade, o colonial, gótico, neo-romano, neo-clássico, eclético, proto-moderno, modernista e contemporâneo. Ao percorrer a cidade, há a história de vários períodos. É uma característica super positiva não haver uniformidade”, afirmou a arquiteta.
De acordo com Karina Martins, pode-se destacar que São João é uma das poucas cidades que permaneceram autênticas às suas construções, pois não se espalhou o pastiche. Este é uma cópia de edificações antigas. Por exemplo, em um vazio urbano entre construções históricas não se deve copiar o estilo colonial proveniente de outra época. Mas empregar técnicas contemporâneas de arquitetura, preservando e respeitando a harmonia do conjunto, isto é, um diálogo arquitetônico, o novo conversando com o antigo.

Descaracterização
Desinformação, perda de algumas técnicas e empobrecimento da cidade foram causas apontadas para as descaracterizações. Para os bens históricos serem preservados, o conhecimento e a valorização são imprescindíveis. A comunidade precisa saber o quão valioso é seu patrimônio. “Desde o início da formação escolar, a riqueza patrimonial tem que ser estudada pelos alunos para gerar a consciência de preservação. Muitas pessoas não preservam por não reconhecerem o valor.”, argumentou Karina Martins.
Outro fator importante é a especulação imobiliária, pois o metro quadrado no centro é alto e os proprietários tendem a aproveitar ao máximo o espaço de seu terreno, o que não é permitido. Além disso, o caráter econômico é significante, vez que reformar custa caro. “Às vezes, os moradores não têm condições financeiras de manter o imóvel antigo. Aí vai deixando a fachada descuidada ou fazendo reparações mais baratas, com material contemporâneo”, disse a arquiteta.

Placas e letreiros
Nas ruas comerciais da cidade facilmente se nota o abuso cometido pelos proprietários ao colocar placas e letreiros desproporcionais e em convergência com a identidade de uma cidade história. “Esse é um grande problema. Principalmente na Avenida Tancredo Neves, a coisa foi acontecendo sem nenhum controle. Acho que é necessáriá uma revisão do Código de Posturas do Município [de 1990] para estabelecer um padrão e é essencial que a fiscalização se torne mais rígida”, reconheceu a arquiteta da Secretaria de Cultura e Turismo.

"O código de Posturas é antigo e obsoleto, como se não existisse" (FERRARI)

O diretor técnico do IPHAN concorda com o ponto de vista de Karina Martins. “Muitas dificuldades existem por falta de legislação municipal. Não temos uma Lei de Uso e Ocupação do Solo, que define parâmetros de construção na cidade. O código de Posturas é antigo e obsoleto, como se não existisse. Há, no, IPHAN os parâmetros de placa indicados, mas não podemos fazer com que isso seja seguido fora da área tombada. Precisa ser feito um novo Código de Posturas”, disse Mário.

Como proteger
Dois órgãos atuam na proteção dos bens históricos de São João: o IPHAN e o Conselho Municipal de Preservação do Patrimônio Cultural (CMPPC). Ambos fizeram tombamentos e protegem as áreas e edificações individuais e as cercanias das modificações feitas pelos proprietários.

O IPHAN foi instalado e passou a agir efetivamente na década de 80. Por isso, muito se modificou na cidade e pouco podia ser feito. Só em 2007, o Instituto teve seu próprio escritório técnico. “Já viemos de um passado negativo: aconteceram várias demolições na área tombada e não tinha ninguém para punir. Perdemos muita coisa naqueles tempos, mas houve reconstruções que não engessaram São João no estilo colonial”, afirmou Mário Ferrari.

Após a instalação do IPHAN na cidade, muito se combateu a mentalidade retrógrada e as alterações incorretas nas edificações tombadas com processos. Isso fez com que a área tombada esteja, hoje, bem preservada. “Há obras irregulares porque os processos judiciais demoram. Depois, o proprietário deve desfazer suas modificações e deixar o prédio como dentro das normas do IPHAN e do tombamento”, disse o diretor técnico.

O Conselho de Preservação foi criado em 1998 e delimitou o centro histórico em 2000. Ele atua em parceria com o IPHAN na fiscalização e proteção ao patrimônio são-joanense. “Se alguém descaracterizar um imóvel que estiver em área tombada pelo Conselho ou pelo IPHAN, essa pessoa vai ser processada. Quem quiser modificar sua fachada deve enviar o projeto para ser avaliado e, depois de aprovado, pode iniciar a obra”, disse Roberto Maldos, presidente do Conselho.

"Quem fizer alterações no edifício sem nossa aprovação será processado" (MALDOS)

De acordo com Maldos, há casos em que pessoas fazem alterações nas fachadas de suas casas e só depois comunicam ao Conselho ou ao IPHAN. “Quando isso acontece e a obra está em desacordo com os padrões, nós acionamos nosso departamento jurídico. Mas processos demoram”, afirmou.

Lembranças
Alguns sãojoanenses, ainda hoje, suspiram ao relembrar dos ares da cidade do início e meados do século XX. Alzira Agostini Haddad, coordenadora do Atitude Cultural, nasceu em 1958 e lembra com paixão de sua infância. “Eu ia a pé para a escola e sempre ficava admirando, ficava encantada. Nessa época, a cidade ainda era bastante preservada. Com o passar dos anos, fui percebendo e ficando aflita, porque a descaracterização foi muito avassaladora, foi muito depressa. Praticamente em 50 anos, se destruiu uma cidade que tem 300 anos”, observou.

Outra Alzira, a Barreto Simões, uma senhora de 82 anos, moradora do Bairro do Segredo, ainda se lembra de maneira muito forte e viva de quando cuidava das hortas de seu pai naquele mesmo local, onde hoje existem diversas casas. “São João era outra cidade. Havia somente seis carros. Era tudo muito calmo. As ruas tinham seu calçamento original. Era tão plano que não me lembro de ter tropeçado nenhuma vez. A gente ia andando pela cidade e sentindo o cheiro de rosas, pois os jardins eram cuidados com primor. No Largo de São Francisco havia orquídeas e muitas outras rosas, hoje está bastante sem graça”, lembrou.

"Sofro profundamente com o aviltamento dessa cidade"(BARRETO)

Ela contou com saudades como era o córrego que corta São João, da beleza impecável dos casarões e da polidez das pessoas. “Andávamos pelas ruas com tranqüilidade, sem preocupação nenhuma. Eu ficava admirando o Córrego dos Lenheiros que era tão límpido! Perto do Museu, havia uma queda d’água, como uma cachoeirinha. Era tão lindo! Agora, cimentaram tudo. Está essa coisa feia e degradada”, relatou Alzira Simões.

Programa de AIDS não contempla homossexuais

O Programa Municipal de Ações e Metas (PAM), que elenca o calendário e as ações de prevenção às Doenças Sexualmente Transmissíveis (DSTs), AIDS e hepatites virais não foi aprovado, no dia 3 deste mês, pelo Conselho Municipal de Saúde de São João del-Rei. Três falhas foram apontadas. A Coordenadoria do Centro de Testagem e Aconselhamento (CTA) se desculpa pelos erros, atribuídos à falta de tempo e comunica que está refazendo o Programa em parceria com o Conselho de Saúde, com o Movimento Gay da Região das Vertentes (MGRV) e o HI-VITA.

As três falhas do documento foram: a CTA apresentou o PAM após o prazo limite; não ouviu as Organizações Não Governamentais (ONGs) e não estabeleceu metas para os homossexuais. “Foi feito um primeiro programa bom para a população heterossexual. Mas ele não contemplou o homossexual, porque o MGRV foi cerceado em seu direito de participar da elaboração do documento. A coordenação se recusou a aceitar nossas propostas. Um heterossexual não vai saber da nossa realidade de vida nem propor ações de enfrentamento à epidemia no município. Simplesmente não existe nenhuma ação de prevenção destinada aos homossexuais”, afirmou o coordenador do MGRV, Carlos Bem.

Indignação
A coordenadora da CTA, Leonila Policário, se desculpou pela falha cometida, mas ressaltou que, em nenhum momento, quis excluir os homossexuais. “Foi com tamanha indignação que recebemos essa acusação, porque o MGRV é nosso parceiro. Cometi falhas na elaboração do documento e peço desculpas à população. Nós temos uma equipe mínima na CTA e desenvolvemos inúmeras atividades, que foram intensificadas no carnaval. Então, o que faltou foi tempo para nos reunirmos com o Conselho e as ONGs locais. Espero não voltar a cometer o mesmo erro”, se defendeu Leonila Policário.

Procurou ou não?
Segundo Leonila, as portas da CTA estão sempre abertas. Contudo, ela diz que o MGRV não enviou nenhum documento contendo as propostas e demandas dos homossexuais. A coordenadora afirmou que tentará, na medida do possível, refazer o PAM. “Vamos tentar negociar isso, porque temos prazo para entrega e não podemos deixar os pacientes da CTA sem tratamento. Temos pouco tempo, mas vamos trabalhar em parceria com o MGRV e o HI-VITA”, afirmou Leonila.
De acordo com o MGRV, todos os anos, sugestões e demandas dos homossexuais são encaminhadas à CTA, mas, até 2009, nada havia sido feito. “Desde 2007, procuramos a coordenação do Programa e tentamos nos reunir. Mesmo assim, nossas propostas não foram incluídas no documento. Tentamos dialogar com eles e sempre recebemos um não como resposta. Ano passado, conseguimos incluir algumas ações, como o apoio à Semana da Diversidade Homossexual, mas precisou ter intervenção do Ministério da Saúde para que o recurso fosse liberado e não sobrasse tudo na conta”, contou Carlos Bem.

Conselho de Saúde
Quem não havia sido procurado foi o Conselho de Saúde. O Ministério da Saúde estabelece que o PAM deve ser elaborado em parceria com a sociedade civil e ser apresentado ao Conselho, em outubro. Como esses requisitos não foram cumpridos, o documento não foi aprovado. O Conselho informa que só foi procurado no início de 2010 e que, nos outros anos, também não havia tomado conhecimento acerca do Programa. “As desculpas foram aceitas em relação à questão de não ter apresentado no ano passado. Agora, para não errarmos, estamos revendo o documento junto às ONG’s. Incluímos quatro metas que contemplam a população homossexual e, provavelmente, o PAM será aprovado”, afirmou Willimar Borges de Deus, presidente do Conselho Municipal de Saúde.
Mesmo com os erros, o PAM não perdeu validade junto ao Ministério da Saúde. Isso porque é um programa de urgência que, devido à importância, o Ministério não pode esperar a aprovação municipal para repassar as verbas. “O repasse só seria cancelado se o Conselho reprovasse o documento, o que não aconteceu”, explicou Borges.

Não à homofobia
Carlos Bem destaca que as ações realizadas no Carnaval e na Semana da Diversidade são insuficientes e que, para esse ano, o apoio foi retirado. Carlos disse, ainda, que a postura do CTA legitima a homofobia. “A partir do momento em que se recusa a aceitar as propostas do Movimento e a cumprir as determinações técnicas do Ministério da Saúde em relação aos homossexuais, é um discurso que vai legitimar a homofobia. Isso vai empurrar o homossexual a ser infectado pelo HIV, vírus da AIDS”, argumentou o coordenador do MGRV.
Leonila Policário disse que a CTA pretende continuar fazendo os repasses às ONGs. Ela ratificou que não houve nenhuma intenção de fazer um documento homofóbico. “Não entendemos a insatisfação do MGRV, nosso parceiro. Os erros aconteceram porque não temos material humano e tempo suficientes para trabalhar. Em 2009, repassamos ao Movimento R$ 500 por mês e R$ 7 mil só para a Semana da Diversidade. A ideia é manter os repasses”, afirmou.

Aprovação
O novo documento do Programa de Ação e Metas deverá ser apresentado nesta sexta-feira, 21, aos conselheiros de Saúde. A tendência é que, após as mudanças realizadas, o documento será aprovado.

"Foi feita uma denúncia por email pelo MGRV. Daí parti para a apuração, usando os principais envolvidsos como fonte, o Conselho de Saúde para uma visão um pouco mais afastada do centro de interesses e algumas informações obtidas em off. O resultado foram visões discrepantes e buracos de informação criados por esse conflito. Em vários pontos, não consegui oferecer uma definição do porquê das coisas estarem acontecendo, como do repasse. Mesmo assim, me aproximei em dar algumas pistas para a interpretação dos leitores."

Greve dos professores é ameaçada pelo estado

Os trabalhadores em Educação da Rede Estadual de Ensino de Minas Gerais decidiram, em assembleia realizada no dia 18, manter a greve por tempo indeterminado. Porém, a paralisação, iniciada no dia 8 de abril último e que chega a 66,2% dos profissionais, foi considerada ilegal pelo Tribunal de Justiça de Minas Gerais (TJMG), sob multa diária de R$ 10 mil reais em caso de descumprimento. O governo pede a volta imediata dos professores e admite o corte de ponto e as demissões. Sindicato e governo estão em processo de negociação para definir se haverá propostas concretas de reajuste salarial.

Em São João del-Rei, 26% dos trabalhadores estão parados, representado um impacto a, aproximadamente, 60% dos alunos. Todavia, com os empregos em risco, alguns professores voltaram, normalmente, às salas de aula. Outros também voltaram, mas não estão cumprindo o conteúdo escolar e lecionam cidadania.

Negociações
O comando de greve e representantes do estado estão se reunindo, toda semana, para encontrar um equilíbrio entre os interesses: a classe quer o piso nacional, o estado diz não poder pagar. O Sind-Ute espera que o piso da nacional da categoria, de R$ 1.312 reais, seja cumprido. O governo propõe formar uma comissão para rever a composição salarial da categoria. Caso a proposta fosse aceita, a greve seria suspensa. Porém, até o fechamento dessa edição, nenhuma posição oficial havia sido tomada.
A greve dura mais de 40 dias e conseguiu alguns ganhos. Tais como: realização de concurso público para preenchimento de cargos na educação, processo de certificação de diretores escolares até o final do ano, com indicação de nomes pela comunidade; uniformes e equipamentos para os auxiliares; pagamento de rateio aos designados e de adicionais por tempo de serviço.

Polivalente
A Escola Estadual Governador Milton Campos, o Polivalente, localizada no bairro de Matosinhos, é uma das maiores escolas estaduais de São João del-Rei. De seus 73 professores, 42 estão em greve. Segundo a diretora Débora de Resende Lara, essa é a escola com maior número de professores no movimento. “Minha posição é de respeito aos professores, uma vez que a escola não pode interferir no movimento. Estamos tentando organizar os horários para atender os alunos e ficamos aqui em horário integral para esclarecimento aos pais. A diretoria não pode fazer movimento nenhum contra a greve, que é um direito adquirido. Só podemos respeitar”, afirmou.
A professora de Física do Polivalente, Geórgia Priscila Silva Souza, está trabalhando, mas diz ser favorável à greve. “Sou completamente a favor, ela é legítima. Só que sou contratada, não sou efetiva e fiquei receosa quanto a suspender os trabalhos”, explicou.

Alunos
Sentindo-se prejudicados com a greve, cerca de 40 alunos do Polivalente foi, no dia 19 de maio, ao escritório do Sind-Ute pedir esclarecimentos sobre a situação dos discentes. Eles foram informados que a greve teria acabado, quando, na verdade, ainda continuava.
Então, sem buscar orientação da União Municipal dos Estudantes Secundaristas (UMES) os alunos questionaram os sindicalistas acerca da paralisação. “Estamos sem base para os vestibulares do meio do ano. Somos prejudicados porque não temos aula. Se eles têm o direito de fazer a greve, temos o direito de ter aula. Acho que pagar mais daria aos professores mais vontade de ensinar, mas quero que alguém veja o nosso lado”, disse o estudante do Polivalente, Raphael Vinicius Cardoso.
Na ocasião, o Sind-Ute recebeu os alunos, ouviu as reclamações e expôs o lado dos professores. Foi decidido que outros encontros seriam organizados para fomentar o debate e a troca de informações.

Piso salarial
Os profissionais da Rede Estadual de Ensino entraram em greve no último dia 8 de abril. A maior motivação da paralisação são os baixos salários praticados pelo Governo de Minas Gerais. Segundo o Sind-Ute, o piso atual, que é R$ 339,00, vai passar para R$ 369,00 com os 10% de reajuste. Os profissionais consideram esse vencimento “miserável” e reivindicam o piso salarial nacional de R$ 1.313,85, garantido pela Lei Federal nº. 11.738/08. Uma nova assembleia deve acontecer no dia 25 de maio para decidir o futuro da mobilização.

"Fiz essa matéria em um dia. No seguinte, estava totalmente desatualizada! Tive que mudar todo o texto no decorrer de uma semana. Na terça, dois dias antes de publicar, a descartei e só aproveitei o apurado na Escola Estadual. Tive que adicionar a parte dos alunos reclamando no Sind-UTE e as pressões feitas pelo estado. Acabou que a matéria foi pronta mesmo no deadline.
A greve sobreviveu com muita bravura até agora. Porém, sofre diversas pressões do estado: a multa subiu para R$ 30mil reais diários; a conta do Sind-UTE foi bloqueada; demissões estão acontecendo e a Justiça autorizou a contratação de professores. Portanto, espero, com ansiedade, a nova postura do Sindicato, que de tão espremido contra a parede, corre o risco de terminar a greve sem alcançar o piso salarial. Mesmo assim, muito foi obtido e dessa experiência ficam os lucros empíricos para o Sind-UTE e grevistas.
Dos alunos que foram se manifestar, eu, com ressalvas, aplaudo a preocupação ds terem se movimentado por algo, o caminho é por aí. Contudo, não posso deixar de ressaltar o modo como essa mobilização foi feita. Os secundaristas corream às portas do Sindicato sem buscar qualquer informação credível ou apoio das instituiçoes, sem organização e propósito bem definido. É senso comum que a greve prejudica os alunos. Contudo, os professores brigam por direitos trabalhistas, pela educação de qualidade, por um reconhecimento maior que, a longo prazo, poderia agregar forças para mudar essa grade de ensino ultrapassada, positivista e burra que está em voga. No que diz respeito à educação, essa alteração é um dos meus sonhos, para que cidadãos sejam formados, com raciocínio autônomo, produtuvo e crítico; não as máquinas de vestibular de hoje."

domingo, 23 de maio de 2010

É necessário ficha para morrer?

Aventuras nebulosas entre as burrocracias do SUS

*Gonzo feito em parceria com Vinicius Tobias
anotaçõesburocraticas.blogspot.com

Andar rápido, respirando o ar frio de 05h40min, logo após um café quente, me fez chiar um pouco. Soma-se isso ao fato de que sofro, desde pequeno, de bronquite, sinusite e rinite. Precisava, pelo menos, de uma nebulização simples, com soro fisiológico, para dar uma acalmada. Dirigi-me, então, ao posto de saúde mais próximo, a Policlínica de Matosinhos, levaria, lá, o primeiro fora da manhã. Antes, conto um pequeno fato ocorrido uma hora atrás.

Madrugada na fila
São 04h55min de segunda-feira, o atordoamento do sono me é espantado pelas vozes e risadas turbulentas que ouço da Policlínica do Matosinhos. Um grupo, a maioria de idosos, conversa constantemente, esperando o tempo passar. Uma senhora morena, com cerca de 55 anos, cabelos grisalhos começando a tomar conta da cabeça, se diverte com o fato de ter chegado ao Posto durante a noite passada e ter dormido no banco duro e frio.

Um senhor de calça jeans batida, já bastante gasta, cabelos quase que completamente brancos e pêlos volumosos dispostos ao redor da orelha, reclama do aviso colocado mais cedo na parede.
- Deveriam ter colado aquele papel na sexta-feira. Aí a gente chegava aqui no sábado para conseguir marcar uma dessas sete consultas.

Em meio a conversas sobre pensão alimentícia e um crime distante ainda lembrado, alguém diz:
- O certo é a gente não adoecer para não depender deles. Senão estamos ferrados.
O clima soturno se deita, novamente, sobre o grupo. Todos parecem, subitamente, lembrar porque estão naquela fila. O atendente chega de bicicleta, termina de abrir a porta e ocupa seu posto. A fila logo é formada. As rodas de conversas se desfazem.

Os sete que conseguem marcar a consulta saem sem esconder o sorriso que carregam no rosto. Os outros, para não perder a espera, ficam apenas por um resquício de esperança que lhes resta, ou por uma palavra amigável do atendente.
- É mais uma noite de sono perdida e mais um dia que fico sem médico. Resmunga um senhor ao passar pelo meu lado.

Uma pequena idosa, com camisa moletom listrada, bolsinha branca e uma calça preta, chega às 05h30m. Ela passa ao meu lado e me saúda com um meneio de cabeça. Faz o mesmo com todos ao seu redor. A pequena senhorinha vai à parede, onde estão colados os recados, os olha e volta com um rosto cansado. Seus olhos verdes miram o chão e os dedos remexem um exame, que, depois, ela me diz ser de sua velha mãe. A idosa tinha a esperança de conseguir entrega-lo para um médico. Cedo meu lugar na fila, mas de nada adianta.

Na minha vez, o atendente de óculos, camisa pólo amarelo-escura, que fica atrás do vidro sujo e gasto por lamentações, me cumprimenta e informa que as sete consultas já foram marcadas. Outras marcações só amanhã.
- Infelizmente não, não há médicos. Sugiro que você venha cedo. O povo está dormindo na fila para conseguir marcar uma consulta.
- Isso é um desrespeito. Mas fazer o quê.

Fala, com ar cansado, o atendente, sentindo o peso de uma estrutura caótica sobre suas costas. Ele é o porta-voz de um governo desorganizado, que faz seu povo dormir sob o sereno frio para tentar, com sorte, visitar alguns minutinhos um santo da cura. O homem, que deve passar pelas mesmas dificuldades de todos os desacreditados que saem do posto, revela, facilmente, seu descontentamento com algo que ele, aparentemente, não pode mudar, com um mundo que ele sabe não ser o ideal.

Despachado rapidamente
De volta à minha história, cheguei pouco depois à Policlínica de Matosinhos. Fiquei esperando no balcão de atendimento, onde, no momento, não havia ninguém, quando chegou ao meu lado um senhor. Ele me perguntou o que queria e eu respondi, ofegante, que estava em crise e precisava de uma nebulização. Ele disse, então, que eu precisava de receita para o tratamento. Pediu para eu me dirigir à Santa Casa e ir ao pronto atendimento. Sim! No centro! Disse a ele que estava sem dinheiro para o ônibus. Ele lamentou...

Santa Casa – Precisa de ficha para morrer?
Cheguei à Santa Casa chiando bem mais. Nada grave, claro. Havia apenas três pessoas na sala de espera e fui logo explicar minha situação ao atendente, que me cortou na lata: “Os atendimentos começam 7 horas!”, falou. Ele estava armado, psicologicamente.
Sentei e esperei. Havia uma mulher, logo à minha frente, com um bebê no colo. Quando o atendente citado trocou de turno com uma mulher, ela vai expor sua situação, provavelmente, pela segunda vez:
-Olha, preciso de atendimento. O menino tá de peito cheio! – diz firme.
-A senhora já foi ao PSF do seu bairro?
-Tava fazendo nebulização com soro, mas num tava adiantando. Aí, hoje piorou e eu fui lá pedir uma consulta e a mulher chegou dizendo: “A ficha acabou”. Precisa de ficha pra morrer, agora?
Felizmente, a criança foi atendida. Após essa conversa com a atendente, duas mulheres estavam conversando e a mãe do bebê que já tava sendo atendido disse: “Eu já chego aqui fazendo escândalo, senão não atendem”.

Pedagogia da burocracia
Fui, então, falar de meu problema, e foi uma cena caricata: a atendente mais velha estava ensinando a moça mais nova, que, aparentemente, era recém-contratada, as burocracias do Posto: quantas pessoas, quais papéis e quais casos poderiam ser atendidos ali. A moça escutava tudo alegre, pois não compartilhava do semblante carrancudo dos outros atendentes e enfermeiros, ainda; não havia sentido ainda o peso de seu cargo, de porta voz da burocracia.

Interrompi a explicação. Disse que estava com falta de ar e que já havia ido à Policlínica e tinham me enviado para cá. Ela me perguntou onde eu morava. Respondi que era no Bonfim e ela retrucou: “Isso é caso de PSF. E seu bairro tem PSF”.

PSF – Desfecho mais ou menos
Lá vai o bronquiteiro subir o morro do Bomfim. Chegando ao PSF, fico admirado com sua organização. Apesar do grande volume de pessoas, o Posto me pareceu efetivo, pois me atendeu de forma humana, a despeito da burocracia. Expus meu problema e minha trajetória à atendente de lá. Ela, por sua vez, prometeu que me ajudaria, se eu esperasse 20 minutos, o tempo da médica chegar.

Esperei. A atendente disse que poderia marcar para mim à tarde, coisa muito justa, já que a sala de espera estava cheia. Mas, se eu não tivesse aguentando, poderia me dar a tão batalhada nebulização. Achei ótimo! Disse que seria atendido à tarde, sem, problemas.

Ela me perguntou, então, em que rua eu morava. Respondi: “nessa mesma rua aqui, João Salustiano”. A mulher, muito preocupada, fez uma cara de “deu errado” e falou que a João Salustiano, mesmo emendado com a rua do PSF, era considerada do Centro, pela Prefeitura. Mesmo assim, ela me permitiu fazer a nebulização.
Mesmo estando preso às burocracias do SUS, o PSF do Bomfim me atendeu humanamente. Eu me sentiria seguro sendo atendido por esse PSF. Se pudesse ser atendido por ele...

"Gosto muito do Gonzo, estilo de jornalismo mais literário, em que o jornalista pode interferir na ação. O texto tem dois momentos, o primeiro fui eu quem vivenciou, cheguei ainda de madrugada no Posto e tentei conversar com o máximo número de pessoas e apreender seus dramas. Depois, fui ao guichê de consultas para ver como era o tratamento dado àquelas pessoas. O Vinicius fez o segundo momento, indo da Policlínica ao Bonfim atrás de uma nebulização. O Gonzo ainda está vivo, precisa de pessoas com coragem e engajamento para ser ressucitado e ganhar força, pois é um modo muito carregado de sentimento de expressar a realidade."

quinta-feira, 20 de maio de 2010

Ingerência total!

Estou preparando duas bombas: são matérias que espantam pela simplicidade e pela denúncia da ingerência pública da cidade de Santa Cruz de Minas.

Elas estão em fase final. Amanhã ou depois devem ser publicadas.

Valem a pena, até eu quando apurei não consegui levar a sério.

São João se prepara para receber verbas do PAC

A Secretaria Municipal de Cultura e Turismo está preparando os projetos para liberar verbas do Programa de Aceleramento para Cidades Históricas (PAC). Dez demandas de São João del-Rei foram elencadas pelas Secretarias, em parceria com várias entidades. Uma delas, o Centro de Atendimento ao Turista (CAT), tem seu projeto quase pronto e é o mais próximo de se tornar realidade. Caso os projetos sejam aprovados, as obras devem ter início ainda este ano.

Os projetos que estão sendo preparados pela Secretaria de Cultura e Turismo tentam liberar verbas para as seguintes ações:
• Centro de Atendimento ao Turista;
• Calçamentos dos passeios do centro histórico;
• Revitalização da Praça Maria Tereza;
• Revitalização do Cristo;
• Cadastramento dos imóveis da cidade;
• Zoneamento Urbano;
• Revitalização da ciclovia da Avenida Leite de Castro;
• Construção de dois portais, um na chegada e outro na saída da cidade;
• Revitalização de algumas praças nos bairros.

Curto prazo
Os projetos devem estar prontos até meados de junho, com estudo de tamanho e custo. “Tínhamos, apenas, ideias. Agora, temos que concretizar os projetos arquitetônicos, estruturais, paisagísticos. A quantidade de verba que será liberada para realizar as obras depende da avaliação dos projetos. A promessa é de que os recursos saiam ainda este ano”, afirmou o secretário de Cultura e Turismo, Ralph de Araújo Justino.

"Acompanho esse caso desde novembro do ano passado. A secretaria de Cultura vem fazendo um bom trabalho na busca dessas verbas do PAC para cidades históricas. Espero que consigam liberar o maior volume de capital possível para iniciar as obras. Mas, quero deixar uma importante pergunta: Porque ninguém elaborou um projeto executivo bem estruturado e planejado para brigar por uma verba milionária que poderia arrumar boa parte do sistema de água e esgoto da cidade? Sugiro outra, um pouco mais acessível: Porque não tentaram os 5 milhões para hidrometrar a cidade?"

sexta-feira, 7 de maio de 2010

Dia do trabalhador é festejado com lazer e conscientização



O 1º de maio foi comemorado pelos trabalhadores são-joanenses no Social Futebol Clube, em Matosinhos. Sob sol forte, muitas famílias compareceram para prestigiar o evento e aproveitar o lazer oferecido. Além do Torneio de Futebol da União Sindical, houve discussões políticas, sorteio de cestas básicas e muita diversão para as crianças.

Segundo o presidente do Sindicato dos Metalúrgicos (SindMetal) de São João del-Rei, Jordano Carvalho dos Santos, organizar um dia de lazer é muito importante, porque alguns trabalhadores não podem desfrutar de seu tempo livre, porém as discussões políticas não podem ser esquecidas. “A União Sindical realiza esses eventos para promover o trabalho e os processos de luta que a gente tem durante o ano. Além disso, buscamos conscientizar os trabalhadores de todas as categorias”, afirmou.

Entre o sorteio de cestas básicas, lideranças sindicais exaltaram a luta do trabalhador. “Tem essa festa toda para os trabalhadores, unimos toda a classe, realizamos sorteio de brindes e fazemos brincadeiras para fornecer momentos de lazer, é uma questão social. Abrimos discussões que são necessárias. O trabalhador vem até nós e se engaja na luta por aposentadoria justa e encorpa o movimento sindical”, afirmou o presidente do SindMetal.

O presidente do Sindicato dos Trabalhadores em Construção Civil concordou com a fala de Jordano Carvalho, ressaltando o engajamento da classe. “O trabalhador tem uma certa dificuldade para ter lazer. Principalmente a gente da construção civil. Então essa festa vem em boa hora. Mas nós temos que aproveitar para discutir a segurança no trabalho, prevenção de acidentes e opressão patronal”, afirmou Valdecir Geraldo.

Futebol
A União Sindical organizou um torneio de futebol entre trabalhadores e diversos times da cidade. A campeã da competição foi a equipe da JM Construções Elétricas, que venceu a Serraria Agostini por 3 a 0. “Foi uma excelente ideia de quem criou. Os jogos estão muito bons, bem disputados, não houve nenhuma confusão”, comentou o aposentado João Bosco.

Damae x Copasa
Durante o dia, ainda, foi realizada uma pesquisa de opinião pela vereadora Vera Lúcia Gomes de Almeida (PT), sobre a questão Damae x Copasa. Vera do Polivalente colheu 200 votos, sendo que 156 preferiam que o Damae continuasse administrando o serviço de água e esgoto em São João del-Rei e outros 44 optavam pela Copasa. “É bom o entrosamento entre as lideranças sindicais e a discussão sobre os problemas da cidade. Aproveitamos esse momento para fazer uma pesquisa prévia para saber a opinião do povo sobre qual empresa deve administrar o serviço de água e esgoto. Agora, precisamos aprofundar o debate e saber que tipo de Damae nós queremos, com conselho gestor, concursos e pessoas habilitadas para trabalhar”, disse a vereadora.

"Apuração no sábado à tarde. Beleza! Mas até que foi legal e rápido. Só que, feve-se afdtar cautela ao falar que tal tipo de evento contribui para a conscientização dos trabalhadores . Muitas das pessoas que vi lá não eram vinculados ao Sindicato e não pareciam querer algo mais que festa, futebol e lazer. Mesmo assim, é um espaço importante para tentar esse tipo de articulação, principalmente para mostrar a lutal sindical a pessoas que têm pouco contato."

Igreja de São Francisco vira cenário de filme

No domingo passado, 2 de maio, aconteceu a terceira e última semana de gravações, em São João del-Rei, do curta metragem “Em nome de Deus”. A Igreja São Francisco de Assis virou palco da narrativa sobre religião, celibato e a vida dos sacerdotes, contada pelo diretor Wilton Araújo. A produção, feita com atores são-joaneses, promove as belezas e artistas da cidade.

O roteiro é uma adaptação do poema “Oração do Sacerdote”, do padre francês Michel Quoist, extraído do livro “Poemas para rezar”. “A obra fala da entrega dos religiosos, de seus momentos de fraqueza, do desejo de ter filhos e de outras situações que não são permitidas pela Igreja Católica”, contou o diretor.

Wilton Araújo disse que escolheu gravar o filme nesta cidade por causa da beleza arquitetônica de suas igrejas, que contribuíram muito para a fotografia da obra. “A Igreja de São Francisco tem muita imponência. Visitei Ouro Preto e outras cidades. Mas achei que São João se adequaria mais, porque eu queria uma igreja isolada, com palmeiras e essa foi a mais bonita que encontrei”, elogiou.
O curta foi todo encenado com atores são-joanenses. “Houve um processo de seleção em março. Escolhemos atores, figurantes e elenco de apoio”, contou Wilton.

Dificuldades
“Em nome de Deus” teve produção independente, motivada pela vontade do diretor e dos produtores de fazer cinema. “Fizemos tudo com recursos próprios. É coragem e gosto de querer fazer o trabalho”, afirmou Wilton Araújo. A equipe se deslocou de Juiz de Fora os três finais de semana para o processo de filmagem.

O diretor de fotografia, Wagner Soares, lembrou da resistência que algumas pessoas têm para com os artistas. “Ainda há muitas portas fechadas e entreabertas para com os artistas e isso dificulta na produção. Uma grande dificuldade, do ponto de vista técnico, foi dar continuidade à fotografia. Os horários determinados foram apertados, isso faz com que tenhamos muitas variações de luz”, afirmou ele.

Lançamento
A película está em seu processo final de produção, em que é feita a revisão de todo o material gravado, edição e trilha sonora. “Em nome de Deus” deve ser lançado no final de maio e a ideia é fazer exibições na Igreja São Francisco e no Cine Glória.

"Interessante ressaltar que a Ordem cobra para alugar a Igreja para quaisquer tipos de eventos. Além disso, ainda são intransigentes com relação às atividades feitas no interior. Presenciei, antes do início da filmagem, uma senhora, grossamente, mandando a equipe retirar os carros da lateral da Igreja, onde estavam estacionados... Com maior visão empreendedora, a Igreja servir de cenário para o filme, só divulga a beleza e imponência do patrimônio e atrai mais turistas..."

Maria de Barro pode recuperar serra de São José

O coordenador do projeto Maria de Barro, sediado em Nazareno, Vinícius Martins Ferreira, alunos do curso de Geografia da Universidade Federal de São João del-Rei (UFSJ) e o vereador de Santa Cruz de Minas, Alexandre Silva do Nascimento (PT), o Xandele, fizeram uma visita de campo para avaliar as voçorocas da Serra de São José, localizada naquele município e em Tiradentes. A situação pode afetar mais de 100 pessoas, visto que um dos desbarrancados está se aproximando de uma das caixas d’água de Santa Cruz.

O encontro pode ser o início da recuperação do patrimônio ambiental. Para isso, o Executivo de Santa Cruz de Minas precisa se mobilizar e enviar projetos ao Governo Federal em busca de verbas.

A situação
As voçorocas da Serra de São José têm cerca de três hectares e 20 metros de profundidade. Tratam-se de grandes pedaços de terra improdutivos e sem nenhuma vegetação, erodidos com o tempo. Os desbarrancados causam deslizamentos, empobrecem o solo e agravam as enchentes. O fenômeno é motivado por desmatamento, crescimento urbano sem planejamento, desvios incorretos de água e agricultura sem os devidos cuidados.

Segundo Vinícius Martins, o caso da Serra de São José é grave, pois as voçorocas estão em estágio avançado de erosão e comprometeram a caixa de água da serra. “Lá no pé da serra havia uma lagoa, que já não existe. Isso é grave! Ainda tem o problema anual de enchentes, que as voçorocas agravam. Além disso, a caixa de água da Prefeitura está condenada, vai cair em dois ou três anos. Se arrebentar, vai comprometer o abastecimento de água da população dos bairros próximos”, avaliou o coordenador do Maria de Barro.

Soluções
Vinícius Martins, que, em 11 anos de experiência, ajudou a recuperar mais de 300 voçorocas, ressalta que a solução parte do engajamento dos políticos. “O primeiro passo é o interesse: os vereadores já o demonstraram, mas o Executivo tem que tomar as providências e fazer um projeto para captar recursos junto ao Governo Federal. Normalmente, todo esse processo demora de três a quatro anos”, explicou.

Segundo o vereador Xandele, “caso não haja diálogo e o prefeito não coopere, vamos acionar o Ministério Público, porque é uma situação de risco ambiental e social”.

"Muito bacana essa matéria. Subimos na serra com o técnico, que nos explicou a gravidade da situação: subimos na caixa d'água e, espantosamente, o deslizamento de terra está a pouco mais de dois metros da construção de concreto. O técnico nos disse que a chance da caixa cair em dois anos é grande e que, por isso, os políticos teriam de se mobilizar rapidamente para buscar verbas. O Projeto Maria de Barro é uma das iniciativas mais eficientes que tenho conhecimento. Parte de um base teórica acadêmica, conseguiu verbas e diversos prêmios e age muito positivamente nas comunidades, preservando e restaurando o meio ambiente e gerando empregos. Temos que parabenizar o Maria de Barro e estimular o surgimento de projetos, um bom exemplo de que as coisas ainda funcionam nesse País."

quinta-feira, 6 de maio de 2010

Entrevista com Jorge Hannas

Caso Água e Esgoto

Entrevista com Jorge Hannas Salim, diretor do Departamento Autônomo Municipal de Água e Esgoto:

Tive uma boa conversa com o gestor do Damae, ao final de abril. Percebe-se que a situação está muito lenta e que alguns rastros no discurso de Hannas apontam verdades já sabidas. Tais como: ninguém tem pressa de fazer as mudanças, bem como os projetos, tudo deve continuar como está. Essa é uma saída demasiado preguiçosa para o problema, já que o prazo dado pelo Ministério seria alargado e não haveria sanções. Contudo, com vontade política as coisas acontecem e Ministério das Cidades e Funasa têm dinheiro suficiente para fazer os empréstimos e financiamentos, sem mencionar a verba vultosa do PAC.

Quais ações construtivas os políticos fizeram até agora?

Hannas: Foi preparado e enviado à Câmara dos Vereadores um projeto de lei em que o prefeito pede autorização para encaminhar o projeto ou de concessão ou de Parceria Público-Privada (PPP). Primeiro a Câmara libera e, a partir disso, o prefeito encaminha o outro projeto. Quando o projeto indicando a empresa que cuidará do serviço de água e esgoto da cidade for encaminhado, resta à Câmara decidir se o aprova ou não. Claro que, antes, haverá apresentações de todas as empresas interessadas, para explanar a proposta aos vereadores e à população.

Damae busca sobreviver

O Damae está tentando liberar verbas junto ao governo federal?
H: Em maio de 2009, enviamos dois projetos ao Ministério da Cidade, pedindo verba para reestruturarmos a rede de água e esgoto. Esses projetos têm tudo incluído: hidrometração, captação de água e estação de tratamento de esgoto. Em setembro, emitimos ao Banco de Desenvolvimento de Minas Gerais (BDMG) um pedido de financiamento para hidrometrar a cidade. Não obtivemos retorno, mas sabemos que a documentação está totalmente de acordo.

Prazo

Haverá uma ação definida até meados de setembro, data limite do governo federal para os municípios se adequares às diretrizes nacionais de água e esgoto?

H: Praticamente quatro mil municípios mineiros estão em má situação. A própria capital, Belo Horizonte, não tem 100% de seu esgoto coletado e tratado, as usinas estão em processo de construção. O mesmo acontece com os Aterros Sanitários. Sabemos que os prefeitos vão correr atrás de prorrogar esse prazo.

Alguma empresa já se interessou pela rede de coleta distribuição e tratamento de água do município?

H: Já estiveram em São João del-Rei oito empresas se interessando em assumir o sistema de água e esgoto da cidade. Conheço a Copasa, que têm suas qualidades, mas também deixa muito a desejar: quem poderá afirmar que se ela entra aqui vai mexer com esgoto? Aqui no sul de Minas, a maioria de cidades em que a Copasa está instalada não possui tratamento de esgoto.

Como o senhor estrutura seu apoio à PPP?
H: Sempre defendo a PPP. Ela ficará regulada por um Conselho, com representantes do Legislativo, Executivo, Universidade, das Associações e Sindicatos, sem envolver política. Aí se define a política de saneamento que se vai adotar em nosso município, inclusive as tarifas: qualquer aumento tem que ser explicado. O mais importante é que a água continuará sendo patrimônio de São João del-Rei.Temos que ter preocupação, também, com os nossos funcionários. Uma pessoa que trabalhou aqui durante 20, 30 anos não consegue arrumar outro emprego. Então temos que estabelecer metas para termos garantias para o município.

E o Damae é viável de ser reestruturado?
H: Com toda certeza, a reestruturação é o ponto principal para a gente. Mas o tempo vai passando, já temos um ano correndo atrás do aumento da receita, que é instável. Uma hora está lá em cima, na outra temos que pegar o dinheiro acumulado para enxugar o déficit. Não temos recursos para investir em obras grandes. Podemos, apenas, fazer obras do dia-a-dia, coisas mais palpáveis.

Como o senhor avalia o envolvimento da sociedade na questão?
H: Já fizemos três Audiências Públicas no Teatro Municipal, convocando o povo por mídia televisiva, falada e impressa e usando carros de som pela cidade. A última foi uma lástima: tinha 48 pessoas. Eu vejo que a população tem ciência do que está acontecendo, somos questionados. Sabem disso, mas não há a participação em larga escala. Não sei se temos o tempo de fazer um plebiscito, que tomaria muitos meses.

Valas

Andando pela cidade, vemos muitas valas sendo abertas para obras de reparação nas manilhas de água. Porque isso acontece?

H: Enquanto existir o Damae, vai haver a abertura de valas em São João del-Rei. Temos vazamentos todos os meses que precisamos arrumar. Isso acontece porque são tubulações de ferro fundido, as junções são de chumbo, qualquer movimento brusco o chumbo trinca e o vazamento começa. Hoje se trabalha com PVC. Enquanto não trocarmos as redes de ferro fundido por PVC vamos ter vazamentos. Precisaria ser feita a remodelação de todo o sistema de água, o que gira em torno de R$ 15 milhões de reais; com sistema de bombeamento R$ 26 milhões.