segunda-feira, 4 de outubro de 2010

Dois indigentes são assassinados a pauladas e outro é espancado


Os corpos tinham ferimentos na cabeça. Um deles vestia apenas uma bermuda preta e estava todo sujo de terra; o outro, também sangando na cabeça, trajava uma calça jeans e camiseta vermelha. No local, além de utensílios pessoais, havia lixo espalhado pelo chão e muitos objetos que poderiam ter sido usados para feri-los, como diversos pedaços de madeira e pedras. Ambos residiam sob a ponte há quase um ano.

Na manhã de quarta-feira, 29 de setembro, dois assassinatos e um espancamento chamaram a atenção da população de São João del-Rei. Sob a ponte que liga a Avenida Leite de Castro à Rua Antônio Rocha, Bairro Fábricas, foram encontrados os corpos do são-joanense Ronaldo Marcos do Carmo e de outro indigente não identificado. Já o andarilho Paulo de Freitas Santos, natural de Uberlândia, foi localizado nas proximidades ainda com vida e levado à Santa Casa. Não houve testemunhas nem suspeitos. A polícia está investigando os crimes.
A Polícia Militar não descarta que os fatos tenham tido ligação. A guarnição da PM foi acionada por um funcionário da Prefeitura Municipal, que estava aparando a grama e viu os corpos debaixo da ponte. Eles foram atingidos por pauladas e tinham ferimentos na cabeça. A Polícia não encontrou vestígios de drogas no local.

Ponte
Os corpos eram dos indigentes que moravam sob a ponte. As pessoas que residem perto do local não ouviram barulhos de gritos ou algo que chamasse a atenção. Mas ressaltam que eles faziam bagunça e se embriagavam todos os dias. “Dávamos água e comida, mas o álcool falava mais alto”, relatou um dos moradores das redondezas. Um grupo de pessoas comentavam que a Prefeitura nunca se preocupou com os indigentes da cidade e que um crime poderia acontecer a qualquer momento.
O presidente do Movimento Gay da Região das Vertentes (MGRV), Carlos Bem, afirmou que um dos assassinados era homossexual e demonstrou tristeza com a falta de aceitação por parte da sociedade. “Começo o dia muito triste de ver a alegria desse gay ter sido calada com o poder de um pedaço de madeira”, manifestou-se Carlos Bem, por e-mail.
O sargento do 38º Batalhão de Polícia Militar, Carlos Roberto do Nascimento, afirmou que a guarnição encontrou os corpos sem vida. Para ele, tudo indica que os sem-teto foram assassinados a pauladas e pedradas. “Vamos fazer o Boletim de Ocorrência e encaminhar à Delegacia Civil para que seja aberto o inquérito”, adiantou o policial.

Espancamento
Na mesma data, por volta de 7h30min, foi localizado um andarilho ensanguentado na Rua Antônio Rocha, perto do local dos dois assassinatos. Ele foi socorrido e levado para a Santa Casa. O subtenente do Corpo de Bombeiros, João Bosco da Silva, contou que a vítima foi espancada de forma parecida aos dois corpos encontrados debaixo da ponte. A Polícia Militar informou que não se pode ter certeza da ligação dos casos.

"Um crime de forte conotação social. Preferi não upar as fotos visto que foram amplamente divulgadas pela imprensa local. O fato aconteceu no dia de fechamento da edição, eu tinha duas entrevistas relativamente importantes para o horário que tiveram de ser desmarcadas. Corri para o local, os corpos ainda não tinham sido retirados. PM e Corpo de Bombeiros já estavam fazendo seus trabalhos e a perícia chegaria logo após. Fiz algumas perguntas para moradores do quateirão e continuei as apurações com as fontes oficiais. Excetuando-se os detalhes factuais, que não tiveram nenhuma grande diferença de outros crimes, destacavam-se os aspectos sociais do crime. A situação toda está impregnada de problemas econômicos e de divisão de renda, além do que, um dos mortos era homossexual.
O fato implica um abandono dos indigentes por parte da Prefeitura, bem como a possibilidade de crime de ódio e homofobia. Não podia afirmar no texto que o assassinato fora motivado por intolerância ou por drogas. O único ponto concreto em que pude me apegar para ressaltar a carência social era a pobreza dos dois sem-teto. Como o deadline não me deu chance para ouvir sociológos ou a Prefeitura, optei por uma descrição da situação de vida a que os indigentes estavam condenados, trecho esse que coloquei na abertura do texto. Foi a única forma de dar ênfase à problemática."

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