terça-feira, 30 de novembro de 2010

Rio

Reproduzo aqui dois textos do Viva Favela 2.0 a respeito das operações policiais no RJ:


Rio de Janeiro: moradores de favela ou asfalto acuados pelo medo

por Doncdd - 25/11/2010

Cidade de Deus | RJ

Como morador da comunidade da Cidade de Deus, tenho acompanhado todos os noticiários no que diz respeito aos acontecimentos de violência do crime organizado em resposta às políticas de segurança pública do nosso atual governador. Preciso muito saber de tudo, pois sou cidadão de bem e acredito que quem esta no "MEIO" desse fogo cruzado são pessoas como eu e que estão dentro das favelas e que não têm muita parcela de culpa por essa situação ou quem sabe nenhuma. O Rio de Janeiro é uma cidade com muitos contrastes sociais e desigualdades. Essas coisas geram o que estamos vivendo; isso é FATO em qualquer parte do mundo.

Ensino falido, saúde falida, segurança falida, estado FALIDO... Verdadeiro clima de guerra civil... O Rio de Janeiro hoje parece um BARRIL DE PÓLVORA. Creio que isso que esta acontecendo é só a PONTINHA do ICEBERG. Não estou querendo dizer que estou APAVORADO... Mas, tampar o sol com a peneira não é possível; Creio que "OS MAIORES FINANCIADORES E COLABORADORES" para essa situação (não estou dizendo que sou eu ou você) ainda não se deram conta do "MONSTRO" que criaram com toda essa desigualdade.

Outro fato é que estava vendo um telejornal e estava ouvindo a opinião de ANTROPÓLOGOS e SOCIÓLOGOS sobre a "REAÇÃO" violenta do crime, quando percebi que eles FOCARAM apenas o FATO dos CARROS e ÔNIBUS estarem sendo INCENDIADOS, ou seja, os ATOS TERRORISTAS, apenas isso; Todos só falaram dos CARROS... Aí eu pergunto: e as VIDAS? Não são importantes?

Muito se fala em UPP, UPA e etc... Mas eu encaro isso tudo como um verdadeiro "CARNAVAL POLÍTICO". Eu sou uma pessoa muito ROMÂNTICA, amo as coisas quando são feitas de "CORAÇÃO" e com "CARINHO" e com "AMOR ao PRÓXIMO" de VERDADE e sem interesses, seja lá qual for. Muita gente elogia essa política de segurança de UPP nas comunidades. Faltava policiamento? SIM, faltava, como falta na Zona Sul e na Zona Norte. Mas, NA REAL! Eu acho que isso é "ENXUGAR GELO". O problema não está dentro das comunidades. Ele está nas ESTRADAS QUE CORTAM O PAIS, NOS AEROPORTOS E NOS PORTOS... Tem que criar policiamento de verdade para esses locais também.

Já escutei dizer que o ROMANTISMO está fora de moda. Eu acho que é por isso que existem políticos, e que alguns deles vivem e se mantém na política pelas NECESSIDADES dos menos favorecidos. Isso me deixa meio pra baixo e com um sentimento de IMPOTÊNCIA em poder fazer pouco para que elas possam enxergar isso. NEGAR ENSINO DE QUALIDADE e SAÚDE DE QUALIDADE, acredito que sirva para manter essa situação.

Dia 23/11, estava lendo num jornal que o governador e o secretário de segurança SUSPENDERAM e CANCELARAM as FOLGAS dos policias e ainda sem certeza pretendem convocar os que estão de férias para trabalhar. E mais: além disso, remanejar os que trabalham em repartições públicas para as ruas, isso devido aos atuais acontecimentos. De IMEDIATO, isso passou despercebido quando li a notícia, mas quando fiquei sabendo de um caso de ABUSO DE AUTORIDADE (LEI Nº 4.898, DE 9 DE DEZEMBRO DE 1965), ou melhor, AGRESSÃO FÍSICA (tapas na cara de um jovem que portava maconha e ainda fez o mesmo comer a "DROGA"...??? -Estranho, droga não pode ser ingerida). Aqui na CDD por Agentes da Policia Militar pertencentes a UPP local é que CAIU A FICHA sobre essa atitude DESESPERADA do governador e do secretario de segurança e as "CONSEQUENCIAS" que isso vai trazer para os moradores de FAVELAS. Digo mais: os jovens que geralmente são os mais vulneráveis e mais visados para esse tipo de atitude, eu acredito que teremos "POLICIAIS MUITO MAIS TRUCULENTOS" por ai devido a isso.

Eu que sou um "Cidadão de Bem" sinceramente estou muito preocupado com isso e com a minha "INTEGRIDADE FÍSICA" e dos moradores da minha comunidade e de todas do Rio de Janeiro. Se essa decisão for para o mês de dezembro todo creio que a ESTATISTÍCA DE ABUSOS DE AUTORIDADE (estou falando "POR BAIXO") vão aumentar e muito. E tem mais: fico imaginando esses "AGENTES ARMADOS" com poucas HORAS DE REPOUSO em OPERAÇÕES NAS COMUNIDADES E NAS RUAS.

Enfim, enquanto o governo tenta organizar o caos para que até 2014 e 2016 a cidade esteja em plena ordem, vamos seguindo sendo reféns do medo e da insegurança sendo no ASFALTO ou na FAVELA. Creio que não temos mais pra onde correr.

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Heróis e bandidos: a narrativa midiática sobre a repressão ao crime organizado

por franrodrigues - 29/11/2010
GOIÂNIA | GO

Se no dia a dia, a cobertura jornalística das periferias já se resume à violência e criminalidade, o que esperar dos jornais mediante o drástico enfrentamento entre polícia e crime organizado que o Rio de Janeiro vivenciou na 2ª quinzena de novembro? Uma terceira edição de ‘Tropa de Elite’, dizem os que viram nas telas do cinema uma versão fictícia da realidade que agora salta dos televisores e páginas da imprensa do mundo todo.

O complexo de favelas do Morro do Alemão, principal reduto dos traficantes no Rio de Janeiro, sempre aparecia na mídia em função de atividades difusas da polícia e do tráfico de drogas. No recente episódio da ocupação policial, essas favelas se tornaram, agora de forma concentrada, palco de um espetáculo sangrento que nada fica devendo para as coberturas de guerra. Em coletes à prova de balas, repórteres falavam sobre armamentos e táticas de ataque; entrevistaram comandantes da polícia e do Exército; mostraram o desespero de quem vive em meio ao que se chamou de Guerra Civil.

No sofá de casa, o espectador recebeu um circo de horrores, que envolveu o exibicionismo bélico de ambos os lados. Tiroteios, incêndios, bombas, gritos, medo e a constante atualização do número de mortos e feridos. Cada passo da polícia foi narrado, ganhando contornos de heroísmo: apreensões de drogas e armas, revistas, prisões, carros blindados e anfíbios, helicópteros e, claro, o apoio da população. As imagens e textos da cobertura midiática foram enfáticos em demonstrar a capacidade do Estado em suplantar a violência no morro e a eficiência das operações.

Em que pesem as desigualdades sociais que tanto contribuem para esse quadro, é indiscutível que os traficantes devem ser presos e responsabilizados por seus crimes – com a ressalva de que sejam sempre respeitados os Direitos Humanos. É também inegável que pacificar as comunidades e torná-las livres do tráfico sejam medidas essenciais e que o trabalho da polícia é garantir a segurança da sociedade, tendo, para isso, que enfrentar poderes paralelos que se valem da violência. Até concordo que haja aí o mérito dos profissionais que se arriscam em nome da paz e da tranquilidade de outrem. O que, contudo, ficou ofuscado em meio a tantos holofotes foi o porquê desse controle ter demorado tanto, ao ponto de um enfrentamento tão violento.

A pergunta que fica nesse caso não é sobre o paradeiro dos bandidos, mas acerca de seus rivais e arque-inimigos, valendo-me da linguagem dos quadrinhos, que muito se assemelha ao discurso da mídia nessa situação. Afinal, onde estava a polícia enquanto esses poderes eram construídos? Onde estavam os heróis que não impediram a consolidação desse exército do tráfico, dos impérios dos traficantes nas favelas?

Inserir essas perguntas à cobertura midiática implica em desconstruir a dualidade herói-bandido, tão importante na cultura do espetáculo, e considerar a responsabilidade da própria Polícia, pela corrupção e pela omissão, na existência desse cenário de guerra. As pessoas que comemoram as mortes e os tanques de guerra na favela; que julgam a letacidade das ações policiais como critério de eficiência das Políticas de Segurança Pública e que enaltecem os resultados desse enfrentamento precisam ter em mente um quadro mais complexo.

Não podemos esquecer que a polícia, não em sua totalidade, vendeu a preços altos seu silêncio e condescendência com o crime e participou nos lucros das atividades criminosas. A polícia que criminaliza a pobreza e contra ela exerce uma força abusiva não pode ser considerada heróica.

http://www.vivafavela.com.br

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