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Foram 128 filmes, sendo 99 curtas de 13 Estados do Brasil. Diversidade e vanguarda marcaram a Mostra, que conviveu com a rusticidade de Tiradentes. Em meio a patrimônios históricos, foram discutidas as novas tendências do cinema contemporâneo, seu futuro e volta à desmistificação do processo cinematográfico, ao processo de produção como estética do filme. Algo bem representado na película “Esperando Telê”, de Rubens Rewald e Tales Ab’Saber. “Uma coisa são os filmes que tratam do processo cinematográfico e outra aqueles que tratam de seu próprio processo cinematográfico durante sua realização. Essa é a diferença hoje: o processo se tornou estética e a estética se tornou processo, ambos são indiscerníveis”, argumentou o crítico carioca Carlos Alberto Mattos.
Premiações
A 13ª Mostra fez sete classificações de premiações, oferecendo, aos diretores vencedores, financiamento para a produção de novos filmes. O grande vencedor foi “Estrada para Ythaca”, de Guto Parente, Luiz Pretti, Pedro Diogenes e Ricardo Pretti (CE). O longa foi contemplado como melhor filme pelo Júri Jovem e pelo Júri da Crítica, por causa de sua ousadia e mescla de tradição e modernidade, ao contar a história de amizade dos quatro diretores. “Elegemos “Estrada para Ythaca” como uma aposta em um cinema ousado e vigoroso, realizado coletivamente e que aponta para formas mais cooperativas de se produzir”, explicou Luiz Carlos Merten, Júri da Crítica.
Também foi agraciado, pelo Júri Jovem, o longa “Mulher à Tarde”, de Affonso Uchoa (MG). O Júri Popular escolheu como melhor curta da Mostra Foco, “Obra-Prima”, de Andréa Midori Simão e Thiago Faelli (SP); da Mostra Panorama, “Recife Frio”, de Kleber Mendonça Filho (PE); e, como melhor longa-metragem, o documentário “Herbert de Perto”, dos diretores Roberto Berliner e Pedro Bronz (RJ).
A Mostra
Tiradentes sediou um verdadeiro espetáculo de cultura plural, democrática, inclusiva e permissiva. A 13ª Mostra foi um espaço aberto à contemplação do cinema para cinéfilos, críticos, diretores, crianças e pessoas que nunca pararam para apreciar a sétima arte. Na cidade, o cinema foi espetáculo no Largo das Fôrras (espaço aberto para mais de 2 mil espectadores) e no Cine-Tenda, do Largo da Rodoviária. “A estrutura está espetacular, muito bonita. Dá vontade de ficar mais uns dois dias”, disse Nilo Cruz, aposentado de Niterói (RJ). “É o quinto festival seguido que venho. Acho que está mais vazio que o ano passado, mas está muito bom. Gostei muito do ‘Mamonas para sempre, o DOC’. Não tem como não gostar: mostrou desde o início da banda”, disse Jaciara Lins Berger, de 15 anos, moradora de Brasília (DF).
No Cine-Teatro, que funcionou no Centro Cultural Yves Alves, os diretores encontraram com a crítica e com seu público para debater sua produção e esclarecer dúvidas. Os seminários foram ponto de reflexão sobre o cinema brasileiro, novas mídias e processo e dificuldades de produção. “Vi muitos filmes e debates. Gostei, particularmente, de Estrada para Ythaca, um filme de muita amizade e que foi feito com só R$ 1.780. A Mostra é uma oportunidade muito boa para quem gosta de cinema independente, que convida à reflexão. Os debates complementam e, às vezes, são mais importantes que o filme, pois são únicos, ricos, marcantes e inesquecíveis”, comentou Nádia Padrão, professora de Sete Lagoas.
Mas a cidade não foi apenas cinema, durante os dias
Documentário “Verdade de Mulher”
No Cine-praça, amontoaram-se uma quantidade incontável de pessoas para assistir, no dia ao documentário “Verdade de Mulher”, da diretora Maria Luiza Aboim. O filme tratou de violência simbólica, sexual e psicológica contra as mulheres e foi motivado pelo estupro que a filha da diretora sofreu, ainda na infância. No largo das Forras, entre a luz parcimoniosa que o cinema projetava, percebiam-se olhos chocados e emocionados de jovens a idosos.
O púbico aplaudiu de pé e fez fila para abraçar e parabenizar a diretora, pela corajosa narrativa de um tema tão presente e velado na sociedade atual. “Contei a história da minha filha e tentei entender o fenômeno da agressão contra as mulheres. Foram 10 anos de filmagem e entrevistas, feitas por mim. Optamos pelo preto e branco porque o filme não era para ser colorido, quisemos enfocar no tema, na fala das pessoas. È um filme difícil, pesado, que remete a pessoas conhecidas. Ainda pretendo estender o filme para falar da Lei Maria da Penha”, comentou a diretora Maria Luiza, após a exibição do documentário.
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