João Eurico, Marcelo Alves
São João del-Rei há muito tempo sofre com o problema das enchentes. Por falta de informação ou por omissão do poder público, a área urbana cresceu descontroladamente. Isso danificou o funcionamento do Rio das Mortes e do Córrego do Lenheiro, consequentemente, causando os alagamentos nas casas situadas às margens. É isso que a pesquisa intitulada Impactos Ambientais Urbanos Provocados pela Ocupação da Planície Fluvial e do Entorno do Rio das Mortes e seus Afluentes, comprova.
O estudo foi coordenado pelo professor e doutor em Geografia e Análise Ambiental da UFSJ, Vicente de Paula Leão, e contou com o auxilio da bolsista Raquel Cassia. Segundo Vicente, a ideia da pesquisa surgiu a partir de seus vinte anos de observações do fenômeno das enchentes na cidade. Isso, somado ao interesse do professor em geografia física e urbana, resultou em uma pesquisa essencial para a comunidade são-joanense.
Ocupação desorganizada
O pesquisador explica que o tema sempre foi tratado de maneira equivocada, tanto pelos habitantes da cidade quanto pelo meio acadêmico. “Alguns cidadãos acham que o fenômeno tem a ver com tromba d’água”. O que é incorreto, “visto que este é um jargão jornalístico do litoral. Já o meio acadêmico sempre discutiu o assunto de maneira muito superficial. A ideia da pesquisa é demonstrar os impactos ambientais urbanos que causam enchentes”.
Segundo Vicente, as pessoas costumam associar as enchentes às chuvas fortes, o que não é totalmente verdade. Ele explica que a causa está na urbanização desorganizada, que danifica a circulação correta do fluxo de água. “São vários os problemas causados pela ocupação humana: as construções em lugares inadequados reduzem o leito do rio; o asfalto diminui a impermeabilização do solo; a agricultura imprópria despeja sedimentos no rio; a mata ciliar, que ajuda na absorção da água é cortada. Então, são vários fatores que quando somados às chuvas fortes causam as enchentes”, explica.
Vicente ilustra o problema da ocupação humana desordenada usando do Google Earth (sistema de captação de imagens aéreas por satélites) como exemplo: “ao olharmos o bairro de Nossa Senhora de Fátima e a cidade de Santa Cruz de Minas, percebe-se que estão construídos em boa parte na planície de inundação do Córrego do Lenheiros. Então, um fenômeno que seria normal para um rio, que é quando suas águas sobem, acabou se tornando um problema”. Ele enfatiza que a subida do rio, em condições adequadas, é fundamental para o meio ambiente, para a fertilização do solo por exemplo.
Despreparo
O doutor em Geografia afirma que o Brasil é um país tropical, e que, consequentemente, são comuns em seu território chuvas torrenciais – muita chuva num curto período de tempo, e que por isso deveríamos estar sempre preparados. Vicente também alerta para o oportunismo de políticos em épocas de enchente: “depois que o estrago está feito, sempre aparece um político para dizer que o problema é a chuva forte, e que consertará o problema. Olhe por exemplo o Canadá: você não vê as nevadas causando tantos problemas por lá, porque eles estão preparados para este tipo de situação”.
As enchentes não podem ser simplesmente arrumadas de uma hora para outra, e que “o correto seria que houvesse ao menos um sistema de alerta à população, um programa de prevenção de doenças, enfim, um auxílio maior às vítimas das alagações. E não políticos falando sobre coisas impossíveis de serem feitas”, orienta.
Cidade e campo
A pesquisa demonstra que o problema das enchentes em São João del-Rei ocorre por fatores que envolvem tanto da zona rural quanto da urbana. Segundo o professor, quando a agricultura é feita de forma errada, as chuvas passam pelo relevo arado e levam os sedimentos ao rio. O que diminui o volume de água comportável, facilitando a inundação. Efeito semelhante ocorre na cidade, quando as partes mais altas são desmatadas e deixam o relevo desprotegido, então quando chove forte desce uma enorme quantidade de terra dos morros, que também acumulam sedimentos no rio.
Segundo Vicente, as áreas perto de rios serem menos valorizadas, o que acaba atraindo ainda mais construções: “aqui em São João os terrenos e casas em locais centrais estão muito caros, o que obriga a população mais carente a se alojar onde pode”.
Alternativas
Vicente explica que não existe uma solução propriamente dita para o dano já causado na ocupação inadequada dos leitos Segundo ele, não seria viável simplesmente retirar as construções das margens do rio, já que existem histórias pessoais ligadas àquelas casas. “O que deveria existir é um trabalho de preservação da mata ciliar, para diminuir o assoreamento e o lixo jogado nos rios e nas ruas da cidade, lixo que acaba entupindo bueiros e aumentando o problema. As escolas também deveriam ter um papel educativo, com o uso de material apropriado, para mostrar à comunidade as causas do problema. Senão fica difícil para as pessoas entenderem, por exemplo, que o asfalto do bairro Senhor dos montes esta relacionado às enchentes do Nossa Senhora de Fátima”.
O professor afirma que a Universidade ainda é muito distante da comunidade e do poder público. Quanto à pesquisa, por exemplo, Vicente disse que a prefeitura não foi receptiva quanto aos estudos, demostrando dificuldade de acesso aos dados, “ou porque a pessoa desconhece ou porque não tem vontade de mostrar mesmo”.
Concluindo, o pesquisador defende que enquanto a sociedade não mostrar que esta atenta as questões ambientais e que isto ira orientar o foco dela, não será feita muita coisa à respeito. Segundo ele, do jeito que vão as coisas “os políticos vão continuar não se preocupando com o meio ambiente”.
O estudo foi coordenado pelo professor e doutor em Geografia e Análise Ambiental da UFSJ, Vicente de Paula Leão, e contou com o auxilio da bolsista Raquel Cassia. Segundo Vicente, a ideia da pesquisa surgiu a partir de seus vinte anos de observações do fenômeno das enchentes na cidade. Isso, somado ao interesse do professor em geografia física e urbana, resultou em uma pesquisa essencial para a comunidade são-joanense.
Ocupação desorganizada
O pesquisador explica que o tema sempre foi tratado de maneira equivocada, tanto pelos habitantes da cidade quanto pelo meio acadêmico. “Alguns cidadãos acham que o fenômeno tem a ver com tromba d’água”. O que é incorreto, “visto que este é um jargão jornalístico do litoral. Já o meio acadêmico sempre discutiu o assunto de maneira muito superficial. A ideia da pesquisa é demonstrar os impactos ambientais urbanos que causam enchentes”.
Segundo Vicente, as pessoas costumam associar as enchentes às chuvas fortes, o que não é totalmente verdade. Ele explica que a causa está na urbanização desorganizada, que danifica a circulação correta do fluxo de água. “São vários os problemas causados pela ocupação humana: as construções em lugares inadequados reduzem o leito do rio; o asfalto diminui a impermeabilização do solo; a agricultura imprópria despeja sedimentos no rio; a mata ciliar, que ajuda na absorção da água é cortada. Então, são vários fatores que quando somados às chuvas fortes causam as enchentes”, explica.
Vicente ilustra o problema da ocupação humana desordenada usando do Google Earth (sistema de captação de imagens aéreas por satélites) como exemplo: “ao olharmos o bairro de Nossa Senhora de Fátima e a cidade de Santa Cruz de Minas, percebe-se que estão construídos em boa parte na planície de inundação do Córrego do Lenheiros. Então, um fenômeno que seria normal para um rio, que é quando suas águas sobem, acabou se tornando um problema”. Ele enfatiza que a subida do rio, em condições adequadas, é fundamental para o meio ambiente, para a fertilização do solo por exemplo.
Despreparo
O doutor em Geografia afirma que o Brasil é um país tropical, e que, consequentemente, são comuns em seu território chuvas torrenciais – muita chuva num curto período de tempo, e que por isso deveríamos estar sempre preparados. Vicente também alerta para o oportunismo de políticos em épocas de enchente: “depois que o estrago está feito, sempre aparece um político para dizer que o problema é a chuva forte, e que consertará o problema. Olhe por exemplo o Canadá: você não vê as nevadas causando tantos problemas por lá, porque eles estão preparados para este tipo de situação”.
As enchentes não podem ser simplesmente arrumadas de uma hora para outra, e que “o correto seria que houvesse ao menos um sistema de alerta à população, um programa de prevenção de doenças, enfim, um auxílio maior às vítimas das alagações. E não políticos falando sobre coisas impossíveis de serem feitas”, orienta.
Cidade e campo
A pesquisa demonstra que o problema das enchentes em São João del-Rei ocorre por fatores que envolvem tanto da zona rural quanto da urbana. Segundo o professor, quando a agricultura é feita de forma errada, as chuvas passam pelo relevo arado e levam os sedimentos ao rio. O que diminui o volume de água comportável, facilitando a inundação. Efeito semelhante ocorre na cidade, quando as partes mais altas são desmatadas e deixam o relevo desprotegido, então quando chove forte desce uma enorme quantidade de terra dos morros, que também acumulam sedimentos no rio.
Segundo Vicente, as áreas perto de rios serem menos valorizadas, o que acaba atraindo ainda mais construções: “aqui em São João os terrenos e casas em locais centrais estão muito caros, o que obriga a população mais carente a se alojar onde pode”.
Alternativas
Vicente explica que não existe uma solução propriamente dita para o dano já causado na ocupação inadequada dos leitos Segundo ele, não seria viável simplesmente retirar as construções das margens do rio, já que existem histórias pessoais ligadas àquelas casas. “O que deveria existir é um trabalho de preservação da mata ciliar, para diminuir o assoreamento e o lixo jogado nos rios e nas ruas da cidade, lixo que acaba entupindo bueiros e aumentando o problema. As escolas também deveriam ter um papel educativo, com o uso de material apropriado, para mostrar à comunidade as causas do problema. Senão fica difícil para as pessoas entenderem, por exemplo, que o asfalto do bairro Senhor dos montes esta relacionado às enchentes do Nossa Senhora de Fátima”.
O professor afirma que a Universidade ainda é muito distante da comunidade e do poder público. Quanto à pesquisa, por exemplo, Vicente disse que a prefeitura não foi receptiva quanto aos estudos, demostrando dificuldade de acesso aos dados, “ou porque a pessoa desconhece ou porque não tem vontade de mostrar mesmo”.
Concluindo, o pesquisador defende que enquanto a sociedade não mostrar que esta atenta as questões ambientais e que isto ira orientar o foco dela, não será feita muita coisa à respeito. Segundo ele, do jeito que vão as coisas “os políticos vão continuar não se preocupando com o meio ambiente”.
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