Estou lendo o interessantísimo livro de Steven Johnson, Everything Bad is Good for You. A tese do autor é de que os programas televisivos, bem como jogos e a internet não instilam idiotice e passividade na sociedade, mas fazem parte de uma nova cultura popular contemporânea que desafia intelectualmente cada vez mais os espectadores. Farei uma resenha e uma análise desse livro mais a frente, estou nas primeiras paginas, lendo com intensiva curiosidade e quebrando diversos paradigmas que tinha na cabeça sobre esses programas. Ainda não sei onde tudo isso chegará.
Destaco, aqui, apenas uma parte que muito me chama a atenção por sua pertinência e irreverência intelectual. Johnson cita Marshall McLuhan para argumentar que as novas mídias já nascem com uma análise preconceituosa e reducionista, feita por aqueles acostumados às tradicionais formas de veicular símbolos. Par ilustrar isso, o autor sugere uma crítica em uma sociedade em que livros fossem inventados após os videogames. Essa é uma tradução aproximada do texto presente no livro e que ele diz que seria comum nesse cenário hipotético:
(Original no livro em inglês)
Ler livros cronicamente desestimula os sentidos. De forma diferente à longa tradição de jogos – que engaja a criança em um vívido e tridimensional mundo cheio com imagens velozes e fundos musicais, navegado e controlado por complexos movimentos musculares – livros são, simplesmente, uma barra de linhas em seguida numa página. Apenas uma pequena porção do cérebro se implica no processamento da linguagem escrita, enquanto jogos usam todas as partes do cérebro destinadas a sentidos e a movimentação.
Livros são tragicamente isolantes. Enquanto jogos tem, por muitos anos, estimulado os jovens em complexas relações sociais com seus parceiros, criando e explorando mundo em conjunto, livros forçam as crianças a ficar quietas em um local distante, sem a interação com outras crianças. Essas ‘novas bibliotecas’ que apareceram nos anos recentes para facilitar as atividades dos leitores são assombrosas: dúzias de jovens crianças, normalmente tão vívidas e socialmente interativas, sentadas sozinhas em cubículos, lendo silenciosamente, esquecidas de seus parceiros.
Muitas crianças gostam de ler livros, claro, e, sem dúvida, alguns voos escapistas das leituras têm seus méritos. Mas, para uma considerável parcela da população, livros são discriminatórios e reducionistas. Estudos recentes mostram que 10 milhões de leitores americanos sofrem de dislexia – uma condição que nem existia até o texto impresso aparecer e estigmatizar seus leitores.
Mas, talvez, a propriedade perigosa mais importante desses livros seja o fato de que você tem de seguir um caminho narrativo linear. Você não pode controlar as narrativas de nenhuma forma – simplesmente senta e tem a história ditada. Para aqueles que cresceram em narrativas interativas, essa propriedade é impressionante. Como alguém pode embarcar em uma aventura totalmente coreografada por outra pessoa? Mas a geração de hoje embarca em tais aventuras diversas vezes por dia. Isso arrisca instilar a passividade geral em nossas crianças, fazendo-as sentir como se elas tivessem menos poder frente às circunstâncias. Ler não é uma atividade, um processo participativo: é um ato submissivo. Os leitores de livro da nova e mais jovem geração estão aprendendo a ‘seguir o roteiro’, em vez de tomarem a liderança.
(Fim da tradução)
Belo golpe na cultura letrada e intelectualóide que se arrasta pelos séculos dominando, subjugando e diminuindo o valor da cultura popular e suas características.
Destaco, aqui, apenas uma parte que muito me chama a atenção por sua pertinência e irreverência intelectual. Johnson cita Marshall McLuhan para argumentar que as novas mídias já nascem com uma análise preconceituosa e reducionista, feita por aqueles acostumados às tradicionais formas de veicular símbolos. Par ilustrar isso, o autor sugere uma crítica em uma sociedade em que livros fossem inventados após os videogames. Essa é uma tradução aproximada do texto presente no livro e que ele diz que seria comum nesse cenário hipotético:
(Original no livro em inglês)
Ler livros cronicamente desestimula os sentidos. De forma diferente à longa tradição de jogos – que engaja a criança em um vívido e tridimensional mundo cheio com imagens velozes e fundos musicais, navegado e controlado por complexos movimentos musculares – livros são, simplesmente, uma barra de linhas em seguida numa página. Apenas uma pequena porção do cérebro se implica no processamento da linguagem escrita, enquanto jogos usam todas as partes do cérebro destinadas a sentidos e a movimentação.
Livros são tragicamente isolantes. Enquanto jogos tem, por muitos anos, estimulado os jovens em complexas relações sociais com seus parceiros, criando e explorando mundo em conjunto, livros forçam as crianças a ficar quietas em um local distante, sem a interação com outras crianças. Essas ‘novas bibliotecas’ que apareceram nos anos recentes para facilitar as atividades dos leitores são assombrosas: dúzias de jovens crianças, normalmente tão vívidas e socialmente interativas, sentadas sozinhas em cubículos, lendo silenciosamente, esquecidas de seus parceiros.
Muitas crianças gostam de ler livros, claro, e, sem dúvida, alguns voos escapistas das leituras têm seus méritos. Mas, para uma considerável parcela da população, livros são discriminatórios e reducionistas. Estudos recentes mostram que 10 milhões de leitores americanos sofrem de dislexia – uma condição que nem existia até o texto impresso aparecer e estigmatizar seus leitores.
Mas, talvez, a propriedade perigosa mais importante desses livros seja o fato de que você tem de seguir um caminho narrativo linear. Você não pode controlar as narrativas de nenhuma forma – simplesmente senta e tem a história ditada. Para aqueles que cresceram em narrativas interativas, essa propriedade é impressionante. Como alguém pode embarcar em uma aventura totalmente coreografada por outra pessoa? Mas a geração de hoje embarca em tais aventuras diversas vezes por dia. Isso arrisca instilar a passividade geral em nossas crianças, fazendo-as sentir como se elas tivessem menos poder frente às circunstâncias. Ler não é uma atividade, um processo participativo: é um ato submissivo. Os leitores de livro da nova e mais jovem geração estão aprendendo a ‘seguir o roteiro’, em vez de tomarem a liderança.
(Fim da tradução)
Belo golpe na cultura letrada e intelectualóide que se arrasta pelos séculos dominando, subjugando e diminuindo o valor da cultura popular e suas características.
Doido demais o trecho Marcelão
ResponderExcluirmaior quebra dos paradgmas apoiado no único teórico da comunicação que vale a pena ler Mc Luhan
abraços e avante!!!!