A massa do Restaurante da Filó preserva e conta 123 anos de histórias de imigrantes italianos que vieram para o Brasil, fugidos da pobreza e da fome na Europa. Passado de mãe para filha, o macarrão caseiro era feito pelas mulheres em ocasiões especiais, como casamentos, batizados, reuniões. Após quatro gerações de vivência na Colônia do Felizardo, a família Taroco, vinda da cidade de Verona, Itália, foi incorporando ingredientes da cultura mineira e mesclando costumes. A interação criou um modo de cozinhar que reúne elementos da Itália com temperos e ervas de Minas Gerais.
A família Taroco imigrou para São João del-Rei na década de 1890 e construiu suas casas em terrenos cedidos pelo o governo para os imigrantes. Eles vieram num contexto pós-escravidão e eram sub-empregados em fazendas da região em troca de comida e proteção. Representante da quarta-geração da família, Valéria Taroco conta que muitos se revoltavam pela pesada carga de trabalhos.
Em reuniões familiares, os pratos italianos eram preparados pelas mulheres, tradição preservada com o passar dos anos. “As receitas vieram do aprendizado que adquiri com minha avó”, relata Valéria. Ela afirma que a família italiana foi se misturando com os mineiros. “Meus tios casaram com brasileiras, italiano gosta de morena e ficou essa mistura”, diz.
Com isso, a culinária foi adquirindo elementos novos. “Fazemos frango com ora-pro-nobis, feijoada, torresmo e quiabo. Mas a parte mais forte é a massa”, explica a cozinheira. Os temperos são herança de família, “mas tem algumas ervas que uso como o alho-poró e o orégano que vieram da culinária mineira. Fizemos a misturinha, um pouco de cada lado para ficar um pouco mineiro, um pouco italiano”.
A produtora cultural, Alzira Agostini Haddad, é fã das comidas preparadas por Valéria Taroco. Ela fez questão de elogiar o restaurante e destacar a qualidade dos pratos. “A Valéria busca preservar a receita italiana e tem um local bem gostoso - a casa dela - onde podemos passar bons momentos comendo uma comidinha caseira de fogão a lenha”, enfatizou Haddad.
Restaurante
O local onde são servidas as delícias é um ambiente espaçoso, caseiro e atendimento personalizado. O restaurante, que abre sábados, domingos e feriados, produz sua própria massa, de receita tradicional, trazida direto da Itália. Lá são servidos pratos diversos, como lasanha, capelete, rondeli, caneloni e risotos para todos os gostos. Os vegetarianos não foram esquecidos e possuem opções especiais.
“É um trabalho de segunda a sexta para produzir a massa do almoço de sábado e domingo” declara Valéria Taroco, comandando a sua aconchegante cozinha. “A gente tem que apertar a massa, deixar descansar, esticá-la e molda-la, além de fazer os recheios e os molhos no dia em que servimos.”
Produção familiar
Isso tudo é produzido em um ambiente aconchegante e familiar, onde trabalham sua tia, avó, filha e amigas. As rotinas de criação são bastante barulhentas, com o rádio alto as mulheres põem a conversa em dia com muita animação. Uma boa vontade que carece à boa culinária.
Valéria conta que a massa tradicional é batida e esticada em tabuleiro de madeira e não de cimento, “isso influi na textura e no gosto da massa”. Os homens não escapam do trabalho. A eles é designada a tarefa de preparar o risoto, como bons mineiros descendentes de italianos, eles se reúnem e cozinham entre gargalhadas e muita cachaça. A aguardente, inclusive, é servida de graça e também é produzida em um alambique da família.
Local
Para desfrutar das delícias caseiras, o visitante deve ir à Colônia do Giarola, virar à direita depois da ponte e percorrer a estrada de terra cercada de árvores por um quilômetro até encontrar a casa colonial onde fica o restaurante. Para entrar em contato com a Filó, o telefone é 9941-4720, ou entrar em contanto pelo e-mail restaurantedafilo@hotmail.com.
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