segunda-feira, 16 de fevereiro de 2009

Análise de O Som e a Fúria; de William Faulkner


Marcelo Alves

"É curioso que, seja do que for que uma pessoa se queixe, os homens nos digam todos para irmos ao dentista e as mulheres para nos casarmos. E é sempre alguém que nunca fez grande coisa na vida que nos vem dizer como havemos de governar a nossa. É como esses professores da universidade, que nem um par de peúgas têm de seu, a ensinarem-nos como ganhar um milhão em dez anos, e uma mulher que nem marido conseguiu arranjar a dar-nos conselhos sobre como criar uma família."

O Som e a Fúria é um livro extremamente denso e carrega em suas páginas um forte tom de loucura, que, de certo modo, envolve o leitor tão fortemente, que a seqüência racional do entendimento é destruída e cede lugar à percepção sensorial das sensações dos personagens.


Explico-me, o livro é composto de 4 visões diferentes, com pouca noção de linearidade temporal e racional. Assim, o primeiro capitulo é narrado através das sensações de um autista, o que apresenta ao leitor algo totalmente novo, pois não há lógica no encadeamento de idéias, os eventos são separados, retomados, misturados e confundidos aleatoriamente. Algo de extraordinário!

O segundo capítulo é narrado em uma época meio que perdida dentro da história e é a parte mais complexa do livro. Quentin, um suicida absolutamente sombrio e pessimista discorre sobre seus estudos em Harvard, porém sua escrita não segue nenhuma regra gramatical e fica enleada a pensamentos, a acontecimentos passados e a devaneios. O leitor fica totalmente perdido e para entender o nexo da história, dispõe de pequenos fragmentos de conversas inacreditáveis, pela insanidade e complexidade.

Os dois últimos capítulos elucidam os acontecimentos, mais de um modo lacônico e superficial, portanto o leitor fica entregue às suas próprias teorias. A estória conta a decadência de uma família desunida e fadada à desgraça. A mãe odeia seus três primeiros filhos: Ben, um louco; Quentin, o suicida, que pensa em matar a irmã, Caddy, e matar-se, para que no inferno ele proteja a virgindade e a honra da sua irmã; e Caddy, que se casa inúmeras vezes, deixa uma filha para a família cuidar e some no mundo. Jason é o único dos filhos que Caroline diz amar. Ele trabalha incessantemente, para cuidar da filha de Caddy, a Quentin (homenagem ao irmão morto), e de sua família arruinada. Acaba mostrando-se racista, autoritário e desvia todo o dinheiro que Caddy envia para a Quentin.

No aspecto geral, o Som e a Fúria é um romance deslumbrante e difícil de ser lido. Faulkner abandona seus leitores, no que concerne ao desenvolvimento e razões da estória; o que causa um fascinante efeito de interpretação dos motivos da decadência da família e dos tristes fatos que se desenrolam na trama. No meu ponto de vista, é um livro fatalista, visto que os integrantes da claudicante família correm sem perceber para um abismo do qual não há escapatória, pois eles se negam a olhar para o futuro, brigam entre si, destilando um verdadeiro ódio uns contra os outros. Há partes em que Caroline amaldiçoa seus malsinados filhos e não chora suas mortes.

Sensacional! Esse trecho ilustra o pessimismo e fatalismo irremediáveis do livro:
“Nenhuma batalha sequer é lutada. O campo revela ao homem sua loucura e desespero, e a vitoria é uma ilusão de filósofos e néscios.”

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